PARTE 01 –
PERGUNTAS FREQUENTES
O
QUE É O PERIODONTO?
Em Odontologia, periodonto
(do grego “perio”
significando ‘em volta de’ e “odonto” significando
‘dente’) é nome dado a todos os tecidos
envolvidos na fixação do dente aos ossos (maxila ou mandíbula).
O QUE É GENGIVITE?
O sufixo “ite”
quer dizer ‘inflamação’. Portanto gengivite
é a inflamação da gengiva. É causada pela placa bacteriana
ou biofilme dental, uma película incolor e pegajosa que se forma continuamente
nos dentes. Se a escovação e o uso do fio dental diariamente não forem
suficientes para remover esta placa, ela produzirá toxinas (venenos) que podem
irritar o tecido gengival, causando a gengivite, A gengivite é, portanto,
geralmente causada pela higienização inadequada dos dentes
(escovação incompleta e o não uso de fio dental), Se não se proceder à
higienização bucal diária e corretamente por meio da escovação
e do uso do fio dental, a placa bacteriana se forma e as bactérias nela
contidas poderão infeccionar a gengiva causando a inflamação. O principal sinal
da gengivite é gengiva extremamente inflamada, sensível, avermelhada, que
sangram facilmente. Você pode notar algum sangramento durante a escovação e o
uso do fio dental. Neste primeiro estágio da doença, o dano pode ser revertido,
desde que os demais tecidos periodontais não tenham sido atingidos.
O QUE É DOENÇA PERIODONTAL? É A MESMA
COISA QUE GENGIVITE?
Quando a gengivite não é tratada a
inflamação avança para os demais tecidos periodontais ocasionando a
periodontite. Esta é, portanto, uma complicação da gengivite causando o
comprometimento dos demais tecidos periodontais pelo processo inflamatório, que
leva à reabsorção do osso que está ao redor das raízes dos dentes, enquanto
que, na gengivite, não há dano nos tecidos
periodontais além da gengiva.
Repare, então,
que o termo Doença Pediodontal (DP) inclui a gengivite (que é a DP nos estágios iniciais, quando só a gengiva foi afetada) e a periodontite (que é a DP nos estágios mais avançados quando os demais tecidos
periodontais são afetados).
A figura seguinte
ilustra bem essa diferença.
COMO POSSO SABER SE TENHO A DOENÇA
PERIODONTAL?
O sinal mais característico é o
sangramento, mas devemos estar atentos também para: alterações na posição dos
dentes, mobilidade dentária, retrações gengivais, retenções de alimento,
mudança na cor e textura da gengiva (como mostrado acima), inchaço etc.
AO PERCEBER SANGRAMENTO DURANTE O USO
DO FIO DENTAL, DEVO SUSPENDER ESSE PROCEDIMENTO DE LIMPEZA?
Não, desde que esteja passando o
fio corretamente. O sangramento denota a presença de bactérias nessa região e,
dessa forma, é conveniente continuar com o uso do fio na tentativa de
removê-las.
EXISTEM MEDICAMENTOS INDICADOS PARA O
TRATAMENTO?
Como coadjuvantes da terapêutica,
sim. Mas não é possível o tratamento desta doença somente com medicamentos,
sejam estes locais ou sistêmicos. A placa bacteriana aderida ao dente tem que
ser removida mecanicamente.
QUAL A CAUSA DA DOENÇA PERIODONTAL?
A placa bacteriana aderida ao
dente é a única causa desencadeante, porém algumas alterações na gengiva podem
estar associadas a causas hormonais, uso de alguns medicamentos, queda de
resistência etc.
COMO O TRATAMENTO É REALIZADO PELO
CIRURGIÃO-DENTISTA?
É feito com a remoção da placa bacteriana
aderida através de raspagem e alisamento das raízes dos dentes. Quando os
instrumentos de raspagem não atingem toda área da raiz comprometida, as
cirurgias são indicadas para facilitar o acesso.
UMA VEZ TRATADA A DOENÇA, OS TECIDOS
RECUPERAM-SE INTEGRALMENTE?
Não, sempre ficam seqüelas, com
exceção das gengivites. A doença periodontal deixa como seqüelas alterações
estéticas como: deslocamento na posição do dente, retração gengival com
conseqüente aumento aparente no comprimento do dente (altamente anti-estético)
etc. Existem procedimentos cirúrgicos e protéticos que podem minimizar esses
defeitos.
E DE QUANDO EM QUANDO SE FAZEM OS
RETORNOS PARA A MANUTENÇÃO APÓS O TRATAMENTO?
As visitas para manutenção devem
assegurar a estabilidade da condição de saúde alcançada com o tratamento e,
assim, evitar tanto a progressão da doença como a sua recidiva.
É POSSÍVEL PREVENIR ESTA DOENÇA?
A sua prevenção pode ser feita
unicamente removendo a placa bacteriana através de limpeza bucal doméstica com
fio dental e escova, mais limpezas periódicas feitas pelo dentista. Nos casos
mais avançados, recomenda-se uma periodicidade de 3/3 meses e de 4/6 meses para
a maioria das pessoas.
PARTE 02 –
ANATOMIA DO PERIODONTO
GENERALIDADES
Vamos
fazer uma recordação sucinta sobre alguns pouco elementos de anatomia que serão
centrais para o entendimento do que virá.
Divisão anatômica do
dente
A coroa dentária é a porção visível e funcionante na
mastigação e seu aspecto distingue-se de imediato das demais partes. Ela é
brilhante e permanece acima dos ossos de suporte e gengiva (é o que a gente vê
quando olhamos nossos dentes no espelho).
A
fixação do dente no osso se dá através da raiz em cavidades próprias (alvéolos) no interior do osso. Sua forma
de ser implantada, simulando um prego encravado na madeira, fez com que durante
muito tempo fosse chamada de gonfose essa relação dente-alvéolo (do grego “gonphos” quer dizer ‘prego’).
OS ALVÉOLOS
A figura acima mostra os alvéolos (cavidades
ósseas onde se inserem as raízes) das arcadas superior (maxilar)
e inferior (mandibular).
Quando
o dente possuir uma única raiz, esta
se insere nos alvéolos denominados unilacunares (‘uma lacuna’
seta vermelha 3); quando o dente possuir duas raízes, estas se inserem nos bilacunares (‘duas lacunas’ seta vermelha 1) e se tiver três raízes, estas se inserem nos trilacunares
(‘três lacunas’ seta vermelha 2).
Os
alvéolos bi e tri lacunares possuem divisões ósseas internas que são os septos ósseos que separam a cavidade de cada
raiz individualmente (seta verde).
A parte mais alta
do alvéolo, próxima
ao colo dentário, que contorna a entrada do alvéolo, chama-se crista óssea alveolar ou simplesmente crista óssea. As setas azuis apontam para duas destas
cristas.
DIVISÃO ARQUITETURAL E
ESTRUTURAL DO DENTE
A dentina ou marfim representa
o verdadeiro ‘esqueleto’ (fuste) do
dente porque encontra-se colocado na coroa e na raíz, de maneira contínua
(observe isso no desenho acima), pois nem o colo dentário interrompe essa
continuidade anatômica. No seu interior existe, pelo menos nos dentes mais
jovens, uma ampla cavidade, a cavidade pulpar, que reproduz fielmente a
morfologia exterior do dente (figura abaixo).
Como
sugere a figura acima essa cavidade pulpar ou dentária deve ser considerada em
seus dois componentes: câmara coronária e canal radicular, situados na coroa
e na raíz respectivamente.
O esmalte, o tecido mais duro do organismo, empresta ao dente a sua coloração
esbranquiçada característica e graças a sua consistência desempenha papel
preponderante na mastigação dos alimentos. O esmalte envolve completamente a
dentina coronária formando saliências e reentrâncias que dão a esta parte
dentária um aspecto típico em cada tipo de dente da arcada. A espessura do esmalte diminui à medida que se
aproxima do colo dentário, porém, ela permite perceber com nitidez os limites
sinuosos que a linha do colo apresenta em contraste com a coloração mais
amarelada da raíz.
O cemento é delicada película osteóide e é
mais delgado na junção cemento-esmalte (20
a 50 micra – milésimos de milímetro) e mais espesso perto do ápice da raiz
(150 a 200 micra). Esta camada
radicular permite a fixação do dente no tecido ósseo do alvéolo, graças as fibras
do ligamento periodontal (membrana periodontal ou desmodonto) que são inseridas
no osso e no cemento.
OS TECIDOS PERIODONTAIS - PERIODONTO
Periodonto (“peri”: ‘em volta de’, “odonto”: ‘dente’) é o nome dado aos tecidos de implantação e
suporte dos dentes nos
alvéolos.
OS ALVÉOLOS
As
cavidades do osso onde se implantam as raízes dentárias são chamados
genericamente de alvéolos. A figura acima mostra os alvéolos das arcadas superior (maxilar) e inferior (mandibular).
Quando
o dente possuir uma única raiz, esta
se insere nos alvéolos denominados unilacunares (‘uma lacuna’
seta vermelha 3); quando o dente possuir duas raízes, estas se inserem nos bilacunares (‘duas lacunas’ seta vermelha 1) e se tiver três raízes, estas se inserem nos trilacunares
(‘três lacunas’ seta vermelha 2).
Os
alvéolos bi e tri lacunares possuem divisões ósseas internas que são os septos ósseos que separam a cavidade de cada
raiz individualmente (seta verde).
A parte mais alta
do alvéolo, próxima
ao colo dentário, que contorna a entrada do alvéolo, chama-se crista óssea alveolar ou simplesmente crista óssea. As setas azuis apontam para duas destas
cristas.
Chama-se
periodonto
de sustentação (ou de inserção) ao
conjunto formado pelo cemento, ligamento e osso alveolar. Esse conjunto em sua forma a estrutura é
responsável por sustentar o dente em seu alvéolo.
O Ligamento Periodontal – também denominado desmossomo) é um tecido
conjuntivo fibroso, notavelmente celular e vascular, situado entre o cemento
que cobre a raiz do dente e o osso que forma a parede alveolar. Ele varia em espessura de 0,15 a 0,38 mm, sendo sua porção mais delgada a que está em torno
do terço médio da raiz.
Suas funções incluem união e suporte, nutrição, síntese e reabsorção e propriocepção.
Chama-se periodonto de proteção ou gengiva uma membrana
mucosa que reveste os ossos alveolares e envolve os colos dentários (A ‘pele’ que reveste todo o
interior da boca é denominada ‘mucosa’ ou ‘membrana mucosa’).
PERIODONTO DE PROTEÇÃO ou GENGIVA
No lado vestibular a gengiva se
continua com a mucosa alveolar, nitidamente limitada pelo sulco mucogengival, o que ocorre de maneira menos nítida no lado
palatino ou lingual.
Topograficamente podemos dividir a gengiva em:
Gengiva livre: envolvendo
o colo dos dentes, com cerca de 0,5 a 2 mm de altura Em corte vestíbulo-lingual
tem a forma triangular
SULCO GENGIVAL
Na figura acima a sonda periodontal está adentrada ao sulco gengival que é um espaço em forma de V
localizado entre a parede do dente e a gengiva livre que, como vimos, possui normalmente a altura de 0,5 a 2mm.
A gengiva livre apresenta duas vertentes: uma voltada para a cavidade bucal (vertente marginal) e outra voltada para o
dente (vertente dentária). Nessa podemos ainda considerar duas
porções: a
primeira que forma a parede do sulco
gengival, e
uma
segunda, intimamente acolada ao dente, que forma o epitélio juncional, ou contato
dentogengival.
ESTRUTURA DA GENGIVA LIVRE
Vertente marginal: o epitélio pavimentoso
estratificado apresenta-se queratinizado ou paraqueratinizado. A lâmina própria
(conjuntivo subjacente) apresenta papilas conjuntivas pouco numerosas, baixas e
espessas; as fibras colágenas presentes formam feixes que se dirigem em várias
direções, que, no seu conjunto, formam o já visto grupamento gengival. As células do tecido conjuntivo presentes são
os fibroblastos
em sua maioria, podendo estar presentes mastócitos, linfócitos, macrófagos e plasmócitos (células
implicadas na defesa).
Vertente
dentária:
a) epitélio
da parede do sulco gengival: não apresenta queratinização e os espaços
intercelulares são amplos, promovendo alta permeabilidade a diferentes substâncias quer
do sulco para o tecido conjuntivo subjacente ou vice-versa. É frequente neste
epitélio a presença de células sanguíneas infiltradas (neutrófilos). Não apresenta papilas conjuntivas.
b) epitélio juncional: é derivado do epitélio reduzido do
esmalte (tecido embrionário). Ao irromper a coroa dentária (fase pré-funcional
da erupção dentária), os ameloblastos (células
que sintetizam o esmalte) diminuem sua altura rapidamente e, juntamente com
os restantes componentes do órgão do esmalte forma o epitélio juncional. É responsável pelo íntimo contato (aderência epitelial) com a superfície dentária. Formado
por algumas camadas de células (2 a 30 camadas), apresenta espessura variável. Exceto na
camada basal, as células são achatadas e paralelas a superfície dental. As células em contato físico com o
dente, produzem uma lâmina basal semelhante àquela encontrada normalmente entre
epitélio e tecido conjuntivo de suporte. Também encontram-se hemidesmossomos
(corpúsculos de adesão celular) entre as células superficiais e lâmina basal,
sendo provavelmente responsáveis pela estabilidade da junção.
GENGIVA ADERIDA OU INSERIDA
Esta é firme, resistente e fortemente inserida ao periósteo do osso
alveolar, através de fibras colágenas. Também
conhecida como mucosa mastigatória.
Vai da gengiva marginal até a mucosa
do soalho da boca (pelo lado lingual) e da gengiva marginal até a união
mucogengival, pelo vestíbulo.
A gengiva aderida mais larga é
encontrada na região dos dentes anteriores e decresce desde a área do canino em
direção aos dentes posteriores.
A gengiva inserida aparece
ligeiramente deprimida entre dentes adjacentes, correspondendo a depressão
sobre a apófise alveolar entre as eminências dos alvéolos. Nestas depressões a gengiva inserida, muitas vezes forma pregas
verticais, pouco acentuadas, chamadas de sulcos interdentário, pregas
interdentais ou depressão gengival.
Estrutura
Embora o grau de pontilhação e a textura das fibras
colágenas variem em diferentes indivíduos, há também diferenças de acordo com a
idade e sexo. Nas pessoas mais jovens, do sexo feminino, o tecido
conjuntivo tem sua textura mais fina do que nas do sexo masculino. Entretanto,
com o avanço da idade, os feixes de fibras colágenas tornam-se mais grossos em
ambos os sexos.
PERIODONTO DE
INSERÇÃO OU DE SUSTENTAÇÃO
Recordemos:
CEMENTO
O cemento é o tecido
dentário mineralizado que cobre as raízes anatômicas dos dentes humanos. Começa na porção cervical do dente, na
junção cemento-esmalte, e se continua até o ápice.
O cemento fornece um meio para a inserção das fibras colágenas, que ligam
o dente às estruturas circundantes. É um tecido conjuntivo, especializado,
que tem em comum algumas características físicas, químicas e estruturais com o
osso compacto. Ao contrário do osso, entretanto, o cemento humano é avascular.
A dureza do cemento completamente mineralizado é menor do que a
da dentina. O cemento tem
uma cor amarelo-clara, e pode ser distinguido do esmalte por sua falta de
brilho e seu tom mais escuro. O cemento é ligeiramente mais claro do que a
dentina. A diferença na cor, entretanto, é pouca, e sob condições clínicas não
é possível distinguir o cemento da dentina, baseado somente na cor. Sob condições
experimentais, o cemento tem sido mostrado como sendo permeável a uma variedade
de materiais.
Baseado no seu peso seco, o
cemento de dentes permanentes completamente formados contém cerca de
45 a 50% de substâncias inorgânicas e 50 a 55% de material orgânico e água.
A porção inorgânica consiste principalmente de cálcio e fosfato na forma de hidroxiapatita. Numerosos traços de
elementos são encontrados no cemento em quantidades variáveis. É interessante notar que o cemento, de todos
os tecidos mineralizados, tem o mais alto conteúdo em fluoretos.
A porção orgânica do cemento consiste
principalmente de colágeno e proteínas conjugadas a polissacarídeos. Analises dos aminoácidos do
colágeno obtido de cemento de dentes humanos indicam intimas semelhanças aos do
colágeno da dentina e osso alveolar. A natureza química das proteínas
conjugadas aos polissacarídeos ou substancia fundamental do cemento é
virtualmente desconhecida.
O cemento é o tecido dentário mineralizado que cobre as raízes anatômicas dos
dentes humanos. Começa na
porção cervical do dente, na junção cemento-esmalte, e se continua até o ápice.
O cemento fornece
um meio para a inserção das fibras colágenas, que ligam o dente às estruturas
circundantes. É um tecido conjuntivo, especializado, que tem em comum algumas
características físicas, químicas e estruturais com o osso compacto. Ao
contrário do osso, entretanto, o cemento humano é avascular.
A dureza do cemento completamente mineralizado é menor do que a da dentina. O cemento tem uma cor amarelo-clara, e pode ser distinguido do
esmalte por sua falta de brilho e seu tom mais escuro. O cemento é ligeiramente
mais claro do que a dentina. A diferença na cor, entretanto, é pouca, e sob
condições clínicas não é possível distinguir o cemento da dentina, baseado somente
na cor. Sob condições experimentais, o cemento tem sido mostrado como sendo
permeável a uma variedade de materiais.
Baseado no seu peso seco, o
cemento de dentes permanentes completamente formados contém cerca de
45 a 50% de substâncias inorgânicas e 50 a 55% de material orgânico e água.
A porção inorgânica consiste principalmente de
cálcio e fosfato na forma de hidroxiapatita. Numerosos traços de elementos são
encontrados no cemento em quantidades variáveis. É interessante notar que o cemento, de todos os tecidos
mineralizados, tem o mais alto conteúdo em fluoretos.
A porção orgânica do cemento consiste
principalmente de colágeno e proteínas conjugadas a polissacarídeos. Analises
dos aminoácidos do colágeno obtido de cemento de dentes humanos indicam intimas
semelhanças aos do colágeno da dentina e osso alveolar. A natureza química das
proteínas conjugadas aos polissacarídeos ou substancia fundamental do cemento é
virtualmente desconhecida.
Ao microscópio pode-se
distinguir dois tipos de cemento: um em que as células típicas – os cementócitos – estão incluídos dentro de lacunas na matriz
calcificada que é o denominado cemento celular; e outro tipo em que
os cementócitos não estão incluídos
na matriz calcificada do cemento, mas permanecem rente a ele imersas no
ligamento alvéolo-dentário e que é denominado cemento acelular.
O cemento acelular pode cobrir a dentina radicular,
desde a junção cemento-esmalte até o ápice, mas está muitas vezes ausente
sobre o terço apical da raiz. Aqui
o cemento pode ser inteiramente do tipo celular. O cemento é mais delgado na junção cemento-esmalte (20 a
50 micra) e mais espesso perto do ápice (150 a 200 micra). O forâmen apical é circundado por cemento. Algumas vezes
o cemento se estende até a parede interna da dentina por uma curta distância, e
assim é formado um revestimento do canal radicular.
Funcionalmente, o cemento é
importante por causa da fixação que dá
ao dente no seu alvéolo (o ligamento alvéolo-dentário possui fibras
colágenas quwe se inserem no cemento e no osso alveolar fixando a raiz no
alvéolo), além de permitir o aumento compensador da raiz pela perda de material
dentário durante o desgaste natural e, por
último, contribui para que o dente possa continuar a sua erupção oclusal mais
ou menos uniforme.
OSSO ALVEOLAR
O osso alveolar (também dito lâmina dura pelo aspecto radiográfico) corresponde à superfície
interna da loja alveolar onde se localizam as raízes dentárias. O osso de suporte, notadamente nas
regiões posteriores, é constituído por uma cortical externa, que
à semelhança do osso alveolar, reveste uma zona óssea compacta que se continua
com uma zona óssea esponjosa e central.
Apenas na cortical do osso de suporte o
processo alveolar está revestido por periósteo que apresenta,
tanto em jovens quanto em adultos, duas regiões distintas: a mais
externa (distante do osso) é dita região fibrosa por ser mais rica em
fibras colágenas. A mais interna é chamada zona osteogênica por ser mais rica em
células potencialmente osteoblásticas. O periósteo é, portanto, estrutura
importante no crescimento da cortical óssea. Nos indivíduos senis o periósteo
perde sua zona osteogênica permanecendo, portanto, apenas com sua região
fibrosa.
O osso alveolar é constituído por lamelas ósseas paralelas entre si e à superfície radicular e recebe a inserção
perpendicular das fibras do ligamento periodontal (fibras de Sharpey) à semelhança do cemento. Devido a esta
inserção de fibras o osso alveolar também é denominado de fasciculado.
O processo
alveolar sofre constantes modificações em sua estrutura e pode, assim, ser
considerado um tecido altamente plástico. Essas modificações são evidentes especialmente durante a erupção,
exfoliação da dentição decídua (primária) e perda final dos dentes permanentes;
claro está que se faz presente, em menor grau, também com a abrasão e migração
mesial. Os processos alternados de osteogênese e osteoclasia são intermitentes,
havendo períodos de repouso entre eles.
Osso alveolar, ligamento periodontal e cemento constituem o
denominado periodonto de inserção (ou de sustentação) e funcionam como uma unidade biológica.
LIGAMENTO ALVÉOLO-DENTÁL (DESMODONTO)
Abaixo: grupo de
fibras do ligamento alvéolo-dental, (desmodonto):
Os grupos I e II incluem as chamadas
fibras livres: ou ligamento. Para Orban (que escreveu “Histologia e Embriologia Oral”), existiria, no
agrupamento alveolar, um grupo de fibras a que se denominou inter-radiculares.
G) Feixe gengival: formado
por fibras, partindo do colo dental, irradiam-se para o derma da gengiva, entre
cruzando-se com as fibras do cório gengival. Algumas destas fibras confundem-se
com o periósteo das faces vestibular e lingual da apófise alveolar.
T) Feixe transeptal: ou interdental, tem suas fibras correndo por sobre o septo alveolar em busca do colo do
dente vizinho. Não poucas destas fibras fixam-se na parte mais alta do contorno
alveolar, confundindo-se algumas com o periósteo do septo interal veolar.
Ambos os grupos
de feixes assinalados exibem fibras, na sua maioria, com disposição radiada e
com características arquitetônicas semelhantes.
C) Feixe da crista alveolar: fixa-se, este feixe de fibras, na parte mais alta dos septos
interalveolares, daí dirigindo-se ao dente.
H) Feixe horizontal
O) Feixe obllquo
A) Feixe apical
Estas três ordens de
feixes constituem o principal meio de união para o dente. As fibras destes feixes, inserindo-se no cemento, cruzam o espaço
alvéolo-dental para se fixarem
na parede alveolar, com implantação à maneira de fibras de Sharpey. Estas fibras aderem mais ao cemento que ao
osso, por isso, após extrações, a raiz dental vem coberta por
este tecido conjuntivo.
As fibras inseridas no cemento
constituem feixes densos, porém ao se prenderem na parede alveolar dissociam-se
em leque, permitindo a passagem de vasos e nervos entre seus grupos menores. A partir do
cemento, as fibras podem assumir diversas direções, horizontal, oblíqua ou tangencial,
conferindo aos feixes IV, V e VI suas respectivas denominações. Note-se que, no último
agrupamento, as fibras apicais fixam-se na proximidade do forâmen apical e daí dirigem-se
ao osso alveolar, limitando um espaço conhecido pelo nome de espaço
apical de Black ou coxim mucoso apical.
Os
diferentes feixes de fibras assinalados deixam, no seu entrelaçamento, espaços
ou lacunas, mais numerosas e maiores junto à parede alveolar, comunicando-se com a esponjosa óssea. A maioria das
tais lacunas é preenchida por vasos, nervos e espaços linfáticos, que funcionam
como verdadeiros freios hidráillicos quando a peça dental tende a se aprofundar
no alvéolo. Destas
lacunas, a maior é a do espaço apical, onde a ausencia de fibras destina-se a permitir a livre entrada do feixe
vásculo-nervoso do alvéolo para a polpa, garantindo, por outro lado, proteção a
esses elementos e impedindo o choque do ápice contra o fundo do alvéolo.
Outro
fato que deve ser assinalado com respeito a estes feixes de fibras é a
disposição arquitetônica particular que cada uma delas assume, e também os
feixes em conjunto, disposição que garante uma certa elasticidade e este tipo
de tecido fibroso, ainda que aí não exista fibra elástica.
De fato, as fibras dispõem-se nos seus feixes, formando espirais
alongadas ou como cordas, capazes de ceder às forças de pressão que agem sobre
o dente, porém retomando ao estado primitivo quando cessada a força atuante.
O
importante deste sistema é a transformação que se opera nas forças:
a) Força de pressão mastigatória: é transmitida como força de tração para as paredes alveolares.
b) Outros elementos do espaço alvéolo-dental: ao lado do tecido conjuntivo diferenciado que forma o ligamento alvéolo-dental,
há que assinalar outras estruturas no espaço entre a parede alveolar e o
cemento da raiz, tais
como: fibroblastos
típicos - encarregados da
formação das fibras colágenas; osteoblastos, cementoblastos
e
osteoclastos, com função na
remodelação do tecido ósseo e cemento. O tecido ósseo
adapta-se, mediante contínuas aposiçoos e reabsorções às necessidades
funcionais do periodonto, ao passo que o cemento responde a estímulos diversos,
reabsorvendo-se ou apondo novas camadas às já existentes;
c) Restos epiteliais (Mallassez): são formações epiteliais derivadas ou vestigiais do órgão
adamantino (estrura embriobária que forma
o esmalte), que formam grupos ou ninhos esparsos no seio do ligamento
alvéolo dental. Para muitos autores, os cistos paradentais e os tumores
epiteliais (adamantinomas) têm origem nos restos epiteliais mencionados.
Funções do desmodonto (ligamento alvéolo-dentário)
O desmodonto, principalmente por intermédio de sua
parte intra-alveolar, de elevada complexidade no seu conjunto, apresenta as
seguintes funções primordiais: mecânica, biológica, formadora e táctil ou sensitiva.
A função mecânica, talvez a mais importante, subdivide-se em três, todas elas de elevado valor
na mecânica dentária:
1 - absorver parte das cargas transmitidas pelo dente
durante o ato da mastigação, limitando
o discreto movimento que o dente realiza para o interior do alvéolo, como se
fosse um pistão em seu cilindro;
2 - transformar as forças
de pressão exercidas sobre a parte coronária do dente em forças de tração
sobre o cemento e parede alveolar. Estas forças são transmitidas assim
para áreas mais amplas e daí para o trabeculado especial do osso esponjoso das
apófises alveolares e dos maxilares e mandíbula, por intermédio das trajetórias
ósseas. Graças a este conjunto, dente, desmodonto, osso esponjoso e pilares do
esqueleto facial, o impacto mastigador, de razoável potência, será transportado à regiões mais
afastadas do aparelho dentário, perdendo-se na base do crânio, onde são
anuladas;
3 - sustentar o dente no
seu alvéolo, dando-lhe maior estabilidade
mastigadora.
A função biológica está
representada pelas condições nutricionais desta região. A nutrição do dente processa-se mediante os sistemas
sangüíneo e linfático do desmodonto, e a vitalidade dos órgãos
dentários é mantida mesmo em dentes despolpados (desvitalizados segundo alguns)
enquanto permanecer íntegro o desmodonto. As periodontopatias ou doenças que afetam o periodonto
tendem a produzir lesões mais
ou menos graves no desmodonto, levando, em muitos casos, a extrusão do dente ou
comprometendo bastante a sua estabilidade no interior do alvéolo.
A função formadora corresponde à propriedade do desmodonto de estimular a
formação dos cementoblastos e osteoblastos, que são os
elementos essenciais na produção do cemento dentário e do osso alveolar e,
também de continuar a manter a integridade das fibras conjuntivas, graças aos
fibroblastos que formam as fibras do ligamento alvéolo-dentário.
A função sensitiva ou táctil é altamente desenvolvida no desmodonto hígido. O mais
leve toque na superfície da coroa dentária e do colo é localizado
imediatamente. Dentes despolpados por avulsão da polpa e infecção do
desmodonto perdem estas propriedades, porém, quando o dente está despolpado,
mas com o desmodonto íntegro, não perdem a sua alta sensibilidade. Experiência fácil
e elucidativa para demonstrar a função sensorial do desmodonto, é a de
colocar-se um relógio entre os dentes e tapar os ouvidos; ouvir-se-á,
nitidamente, o tic-tac do relógio.
Carneiro e Moraes verificaram
que no desmodonto a gênese do colágeno se efetua em ritmo bastante acelerado,
o que aqui importa mais do que em outras regiões do tecido conjuntivo (tendões, ligamentos, gengiva). Os resultados
autorradiográficos demonstraram que o
periodonto se caracteriza por uma renovação constante do colágeno, o que
explicaria a alta sensibilidade desses tecidos nas perturbações metabólicas e
nas deficiências alimentares.
Antes de
continuarmos chegou a hora de identificar todas as estruturas descritas (esmalte,
dentina, cavidade coronária, canal radicular, ligamento, osso alveolar, crista
óssea)
no filme radiográfico intra-bucal
odontológico. Isto será muito útil para se entender o que
virá.
UM POUCO DE
FISIOLOGIA
Os
ossos embora pareçam corpos estáticos, são, na verdade, tecidos maleáveis que
se modificam sob a ação de fatores externos. Uma força sobre os ossos pode causar tanto
reabsorção (se for de compressão) como aposição (se for de tração).
Esta reabsorção/aposição existe
em função do equilíbrio osteoblasto/osteoclasto e é o fundamento de toda migração dentária ocasionada por forças
ortodônticas e migrações indesejáveis tais como mesialização, lingualização e
vestibularização de dentes. É
também um importante fator na etiologia das reabsorções ósseas verticais que
ocorrem das periodontopatias.
As figuras abaixo esquematizam
esse fato:
Sabe-se também que as peças
dentárias são estruturas sensivelmente mais calcificadas que os ossos.
Era de se esperar, por isso, que
as forças axiais - na mastigação ou na simples compressão das
arcadas por ação dos músculos mastigadores – causassem reabsorções
ósseas. Entretanto isso não
ocorre.
Vê-se que assim que tais forças servem também para
manter a integridade dos tecidos periodontais.
É importante que fique claro
desde agora que, quando
a resultante das forças que atuam sobre um dente não for nula, este
dente migrará na direção e sentido dessa resultante. É o que se pode observar na
figura ao lado que mostra dentes que migraram para uma má posição em função de
a criança possuir o hábito de chupar o dedo polegar.
Se essa resultante for de baixa
intensidade essa migração ocorrerá com menor velocidade e, é claro, que for de
mais alta intensidade, migrará com maior velocidade.
É claro que há um limite de tolerância fisiológica
para a intensidade dessas forças de tal modo que, à partir de certa
intensidade, os tecidos periodontais entram em processo de degeneração e
destruição e onde até mesmo as raízes dentárias poderão sofrer reabsorção. Isto explica certas reabsorções que ocorrem nas raízes de determinados
dentes sujeitos à força ortodôntica, quando esta é indevidamente intensa.
UM POUCO DE PATOLOGIA
INFLAMAÇÃO
A inflamação é uma síndrome que se apresenta com alterações
imunológicas, bioquímicas e fisiológicas, produzindo no local agredido aumento
do fluxo sanguíneo e da permeabilidade vascular, recrutamento leucocitário e
liberação de mediadores químicos pró-inflamatórios.
Traduz uma resposta do organismo a um agente agressor, podendo
ser esse: micro-organismos, parasitas,
agentes químicos ou físicos, reações
imunológicas, ou mesmo células danificadas, geralmente
necróticas. Consiste em respostas
vasculares, migração e ativação de leucócitos e reações sistêmicas, sendo as
primeiras mais características, levando ao acúmulo de fluidos e leucócitos nos
tecidos extravasculares. Isso se traduz como edema, dor, vermelhidão, calor e perda da
função, sinais conhecidos como flogísticos.
Dessa forma, a
inflamação é um mecanismo de defesa que visa cessar a causa inicial da lesão
celular e as consequências de tal lesão.
Logo, o processo inflamatório cessa quando os agentes agressores
e os mediadores que foram secretados são destruídos. Esse processo pode ser dividido em agudo ou crônico. Inflamação aguda quando se inicia rapidamente, com ação curta, tendo como principais
características o edema e a migração de leucócitos (neutrófilos). Inflamação crônica tem como características uma maior
duração, presença de linfócitos e macrófagos, proliferação de vasos, fibrose e
necrose.
INFLAMAÇÃO CRÔNICA
Observa-se a inflamação
ativa, a destruição do tecido e a tentativa de reparar os danos,
simultaneamente. Ocorre devido a infecções persistentes; exposição prolongada a
agentes tóxicos, exógenos ou endógenos; e a autoimunidade.
Observa-se
morfologicamente infiltrado de células mononucleares, destruição tecidual e
tentativas de cicatrização pela substituição do tecido danificado por tecido
conjuntivo.
INFLAMAÇÃO AGUDA
Resposta imediata a um
agente nocivo, onde há um recrutamento dos mediadores
químicos do hospedeiro ao local da lesão.
As
alterações vasculares decorrentes da inflamação visam facilitar o movimento de
proteínas plasmáticas e células sanguíneas da circulação para o local da lesão
ou infecção. As principais alterações são vasodilatação, aumento da
permeabilidade da microcirculação, estase e migração leucocitária que alteram o
fluxo e o calibre vascular. Eventos celulares também ocorrem para que haja
extravasamento de leucócitos e fagocitose do agente nocivo.
PARTE 03 - DOENÇAS PERIODONTAIS INFLAMATÓRIAS E TRAUMÁTICAS
Estes dois tipos de doença representam quase que a totalidade das
manifestações que acometem o periodonto de proteção e sustentação, sendo que as inflamatórias começam sempre ao nível da gengiva marginal podendo atingir (se não for tratada a
tempo) o periodonto de sustentação.
As traumáticas,
causadas por excesso de forças oclusais, promovem alterações típicas no periodonto de sustentação apresentando características muito
próprias só encontradas dentro da patologia periodontal.
Hoje
se sabe, ou acredita-se saber, que o biofilme
(placa bacteriana) é o fator responsável pela inflamação
gengival e que o seu
controle evita o aparecimento da doença.
O
sufixo “ite” quer dizer inflamação,
logo a palavra gengivite quer dizer inflamação da gengiva.
A
forma inicial da doença inflamatória periodontal se conhece com
o nome de Gengivite Marginal
Crônica (G.M.C.), estando as alterações patológicas restritas à gengiva marginal.
A
evolução do processo inflamatório marginal aos tecidos periodontais de suporte
(osso, ligamento, corium da gengiva inserida) caracteriza a periodontite crônica.
Vemos,
portanto, que a Doença Periodontal é
uma resposta do tecido
normal a uma agressão bacteriana inespecífica,
podendo ser considerada um mecanismo de defesa ao agente agressor. Esse
mecanismo segue a evolução por algumas fases.
INÍCIO E EVOLUÇÃO DA GENGIVITE MARGINAL CRÔNICA (G.M.C.)
Por
ser a parte mais importante da patologia periodontal vamos analisa-la
detalhadamente.
à
partir do momento em que essas substâncias entram em contato com o tecido
conjuntivo (fibras colágenas, fibrócitos,
fibroblastos, substância fundamental, vasos sanguíneos) inicia-se uma resposta do organismo a estas
substâncias estranhas. Existe, portanto, uma lesão inicial do tecido
conjuntivo, que é responsável pela liberação de algumas substâncias químicas
denominadas mediadores químicos do
processo inflamatório. São os mediadores químicos que irão determinar o tipo de
processo inflamatório que irá ocorrer, estando isso na dependência do componente microbiano do biofilme.
Para que eles
possam sair do capilar e chegar à região afetada é necessário que o capilar
sofra algumas transformações que são conhecidas como fenômenos
vasculares dos processos inflamatórios e que são: vasodilatação,
permeabilidade vascular, marginação leucocitária
(que permite o fenômeno dos neutrófilos a atravessar a parede do
vaso, fenômeno esse conhecido como diapedese. Estes mecanismos caracterizam o início do
processo inflamatório.
Os
neutrófilos fagocitam
as substâncias estranhas ao local e muitos deles sofrem
necrose, liberando ainda mais substâncias
irritantes no local.
As
fibras colágenas se destroem pela ação de enzimas colagenolíticas liberadas
pelas bactérias e também pelos próprios neutrófilos necrosados
Considerações
especiais devem ser feitas à extensão de destruição das fibras colágenas
localizadas abaixo da aderência
epitelial, pois essa zona é o local onde haverá
migração apical do epitélio de união nas fases mais adiantadas da G.M.C., quando haverá aprofundamento do processo
inflamatório marginal aos tecidos periodontais subjacente.
No periodonto normal existe uma certa distância entre a parte
mais apical do epitélio de união e a crista óssea marginal, ocupada por fibras colágenas inseridas no cemento
que se estendem até a gengiva marginal.
Enquanto
estas fibras estiverem íntegras não haverá migração da aderência epitelial, porque o epitélio de união como
qualquer outro tipo de epitélio de revestimento, somente migra sobre tecido de
granulação.
Sabendo-se
que todo tecido que sofre destruição tende a ser restituído, as fibras colágenas destruídas, vizinhas ao
epitélio do sulco, tendem a ser substituídas. Do mesmo modo é preciso que os fibroblastos das cercanias se multipliquem e procurem
alcançar uma evolução até fibras colágenas.
A maioria dos fibroblastos não conseguem atingir este estágio, pois as substâncias
químicas do local impedem que isto ocorra.
Ao
mesmo tempo, ocorre uma proliferação
de capilares neoformados, cuja finalidade é aumentar a nutrição do local e
aumentar as vias de chegada de elementos de defesa do sangue. Estes neste momento são substituídos,
desaparecendo a maioria dos neutrófilos e aparecendo os linfócitos e os plasmócitos no seu
lugar. A presença destes
elementos modifica o processo inflamatório que passa a ser do tipo crônico
proliferativo.
Observe
na figura acima que tanto o epitélio
oral como do sulco estão
apoiados em tecido
de granulação o que acarreta alguns transtornos
metabólicos a esses epitélios. O epitélio do sulco e o oral, ambos pavimentosos estratificados, ambos recobriam o tecido conjuntivo que os
nutriam. Agora tendo a lhes nutrir o tecido de granulação é claro que sofrerão
atrofia após passar por uma proliferação.
A
proliferação do epitélio interpapilar é uma tentativa de ir buscar uma melhor nutrição no
tecido conjuntivo mais profundo, o que não é conseguido, seguindo-lhe uma
atrofia, que é mais marcada na porção suprapapilar, até que algumas áreas do
epitélio desaparecem, formando ulcerações destes epitélios, mais marcada no epitélio do sulco,
por ser mais fino que o oral, ulcerando-se primeiro.
É este sangramento o
sinal pelo qual o paciente perceberá a existência da doença periodontal na sua
fase inicial. Este quadro restrito à gengiva
marginal é a GENGIVITE
MARGINAL CRÔNICA.
Observa-se
clinicamente a gengiva vermelha e
aumentada de volume (inchada, edemaciada). O avermelhado se deve a um aumento da vascularização do corium
gengival inflamado e também atrofia do epitélio oral, que deixa transparecer a
hiperemia do conjuntivo subjacente.
Radiograficamente
não se observa sinais evidentes de reabsorção da cortical óssea proximal.
Clinicamente
observa-se às vezes variações de intensidade na
resposta inflamatória gengival, e isto se deve à
quantidade de biofilme, à resistência individual e também aos fatores
sistêmicos que possam estar atuando nos vários
indivíduos.
A
compreensão destes fenômenos que levam à G.M.C., muito facilitam o entendimento do
mecanismo pelo qual uma G.M.C.
evolui para periodontite
crônica, com o aparecimento das bolsas periodontais.
PATOGENIA DA PERIODONTITE CRÔNICA
É
na periodontite que aparecem as bolsas periodontais e a reabsorção óssea que
são sinais fundamentais de Doença Periodontal Crônica.
A
partir de uma G.M.C. teremos o seguinte quadro evolutivo:
A
eleição dos trajetos perivasculares deve-se à facilidade aí existente, por ser uma área de tecido
conjuntivo frouxo que favorece a difusão.
Se
na G.M.C. as enzimas e toxinas bacterianas
provocam uma resposta inflamatória no tecido conjuntivo adjacente ao epitélio
do sulco, é fácil entender que
esses mesmos produtos tóxicos agora se difundindo da gengiva marginal aos
tecidos periodontais mais profundos, irá criar uma mesma resposta inflamatória
nestas áreas.
É esta falta de
inserção de fibras no cemento, acompanhada pela presença do tecido de
granulação, que determinará a migração da aderência epitelial.
O mecanismo de migração
da aderência epitelial segue o determinismo biológico dos tecidos. Sabendo-se que o epitélio de revestimento tem
função protetora, cada vez que houver uma ferida, haverá recobrimento deste por
parte do epitélio das bordas da ferida.
A bolsa
periodontal está portanto limitada por um lado pelo epitélio de união proliferado
e, pelo outro, pela superfície cementária do dente.
O cemento exposto à luz
da bolsa perde continuidade com o ligamento periodontal que o nutria e os orifícios onde as fibras estavam
inseridas favorecem a penetração de microrganismos.
O conteúdo da bolsa periodontal é formado
por biofilme (‘placa bacteriana’),
cálculo (‘tártaro’), restos
alimentares em decomposição, células descamadas, exsudato purulento e
sanguíneo.
Até aqui a
periodontite foi discutida com as figuras mostrando as faces vestibulares ou
lingual de um dente, onde a representação gráfica dos fenômenos patológicos são
mãos explicativos. Mas passemos a olhar estes fenômenos pelas faces
interproximais.
Algumas
vezes a periodontite crônica pode
criar um tipo de perda óssea que não seja horizontal. Isso ocorre geralmente nas faces
vestibulares e linguais de molares inferiores, onde a espessura da tábua óssea
fornece a criação de um tipo de perda óssea chamada vertical, que é um tipo de perda óssea que
ocorre com mais frequência na doença periodontal inflamatória associada à
doença periodontal traumática que veremos
mais adiante.
A
periodontite crônica tem evolução lenta sem grandes sintomatologias dolorosas e
muitas vezes só é percebida pelo paciente quando o dente apresenta sinais
evidentes de mobilidade.
Se ao definirmos doença periodontal inflamatória como
sendo um mecanismo de defesa do organismo a uma agressão bacteriana (biofilme,
cálculo) podemos
observar que é exatamente isso que está ocorrendo, pois o epitélio de união ao
migrar e se encontrar na região apical com o epitélio de união do outro lado
está executando um mecanismo biológico de reparação da ferida, deixando o
alvéolo já revestido de epitélio pavimentoso estratificado.
O dente, ao ser exfoliado, leva consigo o
biofilme e o cálculo causadores da doença periodontal inflamatória.
DOENÇA
PERIODONTAL TRAUMÁTICA
Quando sobre um dente incidem forças
oclusais transmitidas aos tecidos de suporte
(osso alveolar, ligamento e cemento), produzindo sobre o dente alterações morfológicas
diversas, estamos
diante de uma doença periodontal traumática, também chamada de traumatismo periodontal, trauma oclusal, traumatismo de
oclusão, trauma periodontal. Todos esses
sinônimos significam portanto a lesão tecidual e não a força que a provoca.
Para que exista alterações traumáticas sobre os tecidos
periodontais de suporte normais, é OBRIGATÓRIA a presença de forças
oclusais excessivas alteradas em alguma das características que sempre compõe
uma força. Assim
podemos ter alteração na direção, intensidade, duração e frequência.
Pode-se observar que devido à disposição oblíqua da maioria das fibras, a força melhor suportada pelos tecidos
periodontais é aquela que atua no sentido do longo eixo do dente, pois a disposição oblíqua da
fibras freia os movimentos de intrusão do dente.
A intensidade, duração e frequência normais de ação de uma força sobre os dentes se relaciona com
o uso do aparelho estomatognático feitos dentro dos par durante a alimentação e
fonação. Desde que
feita dentro dos parâmetros de normalidade a reação dos tecidos de sustentação
também reagirão dentro dos limites de resistência.
Quando houver
modificação nas características de uma força, provavelmente estas ultrapassam o
limiar de resistência tecidual indo provocar lesões traumáticas no periodonto.
As lesões traumáticas serão sempre do ligamento
periodontal, cemento e osso alveolar e estão na dependência do tipo de força que atua sobre os dentes. Dentro do quadro etiológico das lesões traumáticas, o briquismo (ato
de ranger os dentes) e os contatos prematuros são os responsáveis por sua
iniciação.
De um modo geral, quando as forças estiverem alteradas na
sua duração, intensidade, direção e frequência, tendem a provocar uma
movimentação do dente,
que sofre um movimento de báscula, ao redor de um ponto
imaginário chamado fulcro, localizado na união do terço
médio com o terço apical nos dentes unirradiculares e no espaço entre as raízes
nos dentes multirradiculados.
Esta
movimentação provoca o aparecimento de zonas de compressão e de estiramento do
ligamento periodontal.
São as chamadas zonas de pressão e as
zonas de tensão.
Quando a força não é muito extensa
Área de pressão: teremos a aproximação de duas superfícies
duras (osso e cemento), comprimindo uma estrutura mole (ligamento
periodontal).
O ligamento
comprimido tende a recuperar o seu diâmetro original. Para que isso ocorre é
necessário um afastamento das duas superfícies duras. Como a força continua
atuando, o que impossibilita ao dente voltar para a sua posição primitiva, torna-se necessário que o osso ou o cemento sofram
reabsorção,
para devolver o espaço normal ao ligamento
periodontal.
Por ser o próprio ligamento periodontal comprimido, que diferencia os osteoclastos e cementoclastos que por sua vez reabsorvem o
osso e o cemento na área frente à pressão, que chamaremos a esse processo de reabsorção
frontal.
A reabsorção
frontal ocorrerá sempre que houver a
aplicação de forças não muito intensas, que mantem a integridade do ligamento
periodontal, permitindo que ele possa diferenciar osteoclastos e cementoclastos.
No momento em que as forças
deixam de atuar sobre o ´haverá uma normalização das áreas de reabsorção, com fixação
do dente nessa nova posição.
A ortodontia se utiliza destes princípios
para a movimentação dos dentes na terapêutica ortodôntica.
Área de tensão: nessa região se observa que o osso e o cemento se
afastam, provocando o estiramento das fibras do ligamento periodontal.
Quando a força é muito intensa
Nestas circunstâncias, para que seja devolvido o espaço normal do ligamento, não haverá possibilidade de
ocorrer a absorção frontal, pois o ligamento
periodontal está
necrosado e não pode diferenciar osteoclastos e cementoclastos.
Este fato deve ser examinado com
atenção, pois implica na formação da bolsa
periodontal intraóssea.
A reabsorção óssea envolvente é um processo mais lento que a reabsorção óssea
frontal, pois
implica em fenômenos celulares mais intensos que tomam mais tempo do organismo.
Em ortodontia é sabido que a movimentação
mais rápida dos dentes nunca é feita com forças excessivas, mas com forças
leves. O
princípio que regula essas movimentações dentais se enquadra dentro dos princípios
da reabsorção óssea frontal e
envolvente. Além de
ser mais lenta, a reabsorção envolvente é mais dolorosa, pela compressão das
terminações nervosas do ligamento periodontal.
Área de Tensão: devido a movimentação brusca do dente, nestas áreas
se observa o rompimento de fibras
colágenas e rompimento de pequenas porções cementárias que permanecem soltas no
interior do ligamento e
serão muitas vezes englobadas na forma de nódulos calcificados do ligamento.
QUAIS OS
EFEITOS, SOBRE OS TECIDOS PERIODONTAIS, DO TRAUMA DE OCLUSÃO?
Pelo que foi visto, o trauma de oclusão provoca
basicamente reabsorção óssea, desorganização das fibras do ligamento
periodontal e a reabsorção cementária.
O trauma de oclusão NÃO tem nenhum efeito sobre a etiologia dos fenômenos inflamatórios
da gengiva. O
trauma oclusal NÃO produz bolsa periodontal, isto é, ele não é capaz de interferir com o mecanismo da migração da
aderência epitelial. Esta só migra quando houver inflamação gengival destruindo
fibras que estavam inseridas no cemento radicular.
DOENÇA
PERIODONTAL MISTA (INFLAMATÓRIA MAIS TRAUMÁTICA)
Na periodontite crônica havia
formação de bolsa supra óssea pela perda horizontal.
Isso era devido a ação das enzimas e toxinas bacterianas
que destruíam o colágeno e iam se difundindo pelos espaços perivasculares até
atingir a crista óssea, que se reabsorvia. O colágenos que se destruía era substituído por
tecido de granulação que se desinseria do dente e era recoberto pelo epitélio
de união que migrava apicalmente até encontrar fibras sãs. A parte mais apical do epitélio de união fica sempre por cima da crista óssea reabsorvida. Daí o nome bolsa
supra-óssea.
FIM