Trataremos primeiro da Erosão Ácida e A seguir da cárie dental.
EROSÃO ÁCIDA
A sensibilização para o desgaste dentário tem aumentado ao longo dos últimos anos, em grande parte devido aos avanços na dieta e na saúde oral.
Os dentes estão a durar mais tempo
O maior sucesso da medicina dentária no controlo das cáries e das doenças periodontais tem aumentado a longevidade da dentição natural. Dentes saudáveis e não restaurados estão expostos por muito tempo aos processos de desgaste de cada dia.
A erosão ácida é um dano causado aos dentes pelos ácidos, freqüentemente provenientes dos alimentos, que enfraquecem a superfície do esmalte.
Ìntimamente associada à dieta moderna é uma das ameaças mais importantes à saúde dentária desde as cáries. Muitos não sabem o que é isto, nunca ouviram falar em erosão ácida, e não sabem que pode estar acontecendocom os seuspróprios dentes, porque nos estágios iniciais ela é difícil de ser detectada. A erosão ácida é diferente da cárie dentária porque não envolve bactérias ou os açúcares da dieta, é resultado da ação direta de ácidos (seja de alimentos, bebidas ou do estômago) sobre a superfície dos dentes, o esmalte, mas causa os mesmos desconfortos: sensibilidades, dores e a necessidade de tratamentos restauradores.
Enquanto que o aumento do consumo destas alternativas ‘saudáveis’ pode ter benefícios para a saúde, o seu impacto nos dentes pode ser menos bem-vindo.
Várias frutas, vinagres, refrigerantes e vinhos podem ser altamente ácidos e assim potencialmente prejudiciais aos dentes. A dieta e o modo como bebidas e alimentos ácidos são consumidos, associadosaos hábitos de higiene bucal, formam a causa mais provável daerosão ácida. Entretanto, ela também pode ser causada pela presença de ácidos gástricos na boca, por exemplo, como conseqüência da bulimia (vômitos) ou indigestão (regurgitação/ refluxo gástrico). Também existem casos - como resultado da exposição ocupacional ou industrial - nos quaisa erosão ácida pode aparecer, por exemplo, pela inalação prolongada de vapores ácidos.
Outras causas de perda de superfície dentária, que podem estar presentes em conjunto com as causas mencionadas, incluem o bruxismo, escovagem exagerada, e o cachimbo.
Todas as pessoas que possuem dentes naturais, inclusive as crianças, podem ter erosão ácida.
SINAIS E SINTOMAS DA EROSÃO ÁCIDA
Aolho nu os dentes podem parecer saudáveis masapresentar sensibilidade durante a ingestão de alimentos e bebidas quentes, geladasou doces. Podem apresentar fissuras e pequenas fraturas ou mesmo superfícies lisas e desgastadas. Descoloração acentuada, fissuras ou asperezas nas bordas dos dentes, lesões em forma de taça nas superfícies de mastigação, etc.
PREVENÇÂO
A prevenção é feita à partir do diagnóstico feito pelo Cirurgião - dentista e através das orientações e sugestões em relação aos hábitos alimentares e de higiene bucal de cada pessoa. Por exemplo: se ingerir alimentos considerados ácidos a pessoadeve evitarescovar os dentes imediatamente após, porque o esmalte estará amolecido e vulnerável; deve esperar,pelo menos uma horapara escová-los após a refeição. Ao ingerir bebidas ácidasdeve fazê-lo ràpidamente, evitando bochechá-las ou mantê-las por muito tempo na boca,ou, pode usar um canudo para levar o líquido diretamente para a parte mais posterior da boca sem que entre em contato com os dentes. Ao escovar os dentes, deve fazê-lo delicada e suavemente com uma escova macia e um creme dental pouco abrasivo e que contenha flúor na sua composição.
CÁRIE DENTAL
Ao tratarmos da doença mais prevalente na espécie humana, a cárie dental, Faremos incialmente uma introdução com 'perguntas e respostas' sobre esse assunto e mais adiante trataremos esta doença mais detalhadamente.
O que é a cárie?
A cárie dentária é uma doença infecto-contagiosa, crônico-degenerativa e açúcar dependente dos tecidos dentários, que se caracteriza pela desmineralização da porção inorgânica e pela destruição da substância orgânica do dente (o termo "cárie" deriva do latim "ariosus" que significa destruição ou putrefação).
A carie dentária é um problema mundial, embora nem todas as áreas e pessoas sejam afetadas igualmente. Entre os fatores que influenciam a incidência de cárie estão o clima, a composição e a quantidade de saliva, o balanço hormonal, o equilíbrio nutricional, a higiene oral, o teor de flúor na água potável, a dieta e a raça, só para citar alguns.
Das doenças crônicas que atingem a raça humana é a mais prevalente e que, juntamente com o resfriado comum e as doenças gengivais, encontra-se entre os problemas da saúde mais comuns. Se não forem tratadas adequadamente por um dentista, elas continuam a aumentar. Em última instância, uma cárie não tratada acarreta a perda do dente a cárie está para o dente assim como o câncer está para o corpo: se não for removida, não para de crescer até destruir completamente o dente.
Quando ocorre, suas manifestações permanecem por toda a vida, mesmo que a lesão seja tratada. Não existe, praticamente, nenhuma área geográfica do mundo cujos habitantes não apresentem alguma evidência de cárie dentária. A doença atinge pessoas de ambos os sexos em todas as raças, em todos os grupos sócio-econômicos e em todas as faixas etárias.
Começa, geralmente, logo após a erupção dos dentes na cavidade bucal. Segundo Shafer, que escreveu Patologia Bucal, algumas pessoas que nunca apresentam lesões de cáries são denominas "livres de cárie". Ainda não foi encontrada nenhuma explicação satisfatória sobre a imunidade destas pessoas em relação à ausência de cárie (Em nossa opinião seria melhor, contudo, investigar melhor, nestes grupos, a ingestão de sacarose e a freqüência da escovação, e ver se nelas se confirmam esta teoria).
Centenas de investigadores na área de pesquisas odontológicas por mais de cento e cinqüenta anos têm estudado os diversos aspectos do problema da cárie dentária. Apesar desta ampla investigação, muitos aspectos da etiologia ainda são obscuros, e os esforços aplicados na prevenção têm sido apenas parcialmente eficazes.
O que é placa bacteriana?
A placa bacteriana é uma espécie de película composta de bactérias vivas e de resíduos alimentares que se depositam sobre e entre os dentes.
Ela é cariogênica (causadora de cárie) quando bactérias capazes de causar a doença cárie estão presentes na sua composição.
Meus dentes podem ser pouco resistentes à cárie?
Existem algumas doenças que podem alterar a composição dos dentes, levando à má-formação dentária. Além disso, todos os dentes são mais susceptíveis à cárie quando erupcionam (nascem), pois ainda não estão com a calcificação completa. Isso só será um problema se houver acúmulo da placa bacteriana cariogênica sobre os dentes, pois esta permitirá que a lesão se inicie. Indivíduos com deficiências físicas ou mentais que apresentam dificuldades na limpeza dos dentes devem ser supervisionados durante a escovação. Portanto, independentemente de os dentes serem mais ou menos resistentes, o importante é que a limpeza dos dentes seja realizada de maneira adequada.
Quais são os alimentos mais cariogênicos? Há alimentos que protegem contra a cárie
Os alimentos mais cariogênicos são os que apresentam açúcar na sua composição: os doces, as balas, os caramelos, os chocolates, os chicletes e os refrigerantes são exemplos desses alimentos. Existem alguns alimentos que escondem o açúcar na sua composição, como a mostarda e o ketchup. Todos esses alimentos podem ser consumidos, mas de maneira racional, isto é, junto às principais refeições, seguindo-se a escovação. A freqüência com que se come o açúcar é muito importante: quando você ingere açúcar, os seus dentes ficam expostos aos ácidos produtores de cárie durante 20 minutos; se você ingerir açúcar cinco vezes ao dia, os seus dentes poderão ficar expostos aos ácidos produtores de cárie durante 100 minutos! O açúcar também pode estar presente em medicamentos líquidos e xaroposos, portanto, após ingeri-los, é preciso escovar os dentes. A ingestão de farináceos e salgadinhos, principalmente entre as refeições, é um hábito considerado pouco saudável, quando se pensa em prevenção da doença e, portanto, deve ser evitado. Por outro lado, existem alimentos como o queijo e o leite que são considerados protetores dos dentes. Eles apresentam alto conteúdo de cálcio e fosfatos, que protegem contra a desmineralização do dente.
O mel ou o açúcar mascavo podem substituir o açúcar sem danos aos dentes?
Esses alimentos são ricos em açúcares facilmente transformados em ácidos pelas bactérias cariogênicas. O hábito de adoçar alimentos ou lambuzar a chupeta com mel pode provocar lesões de cárie, portanto, deve ser evitado.
Como posso saber se tenho cárie?
A identificação das lesões de cárie pode ser feita através da visão direta dos dentes e do emprego do fio dental. Antes de observar a superfície dentária, há necessidade de remoção da placa bacteriana que a recobre. Portanto, você deve fazer o auto-exame após escovar seus dentes e em local bastante iluminado. Essa doença se estabelece antes de as cavidades serem vistas nos dentes.
Figura ao lado: as manchas berancas representam lesões de cáries incipientes (isto é, iniciais, ainda sem formação de cavidades).
Portanto, procure alguma alteração de cor como mancha branca ou acastanhada na parte superior dos dentes (sulcos e fissuras) e entre os dentes. Em um estágio mais avançado da doença, as manchas podem evoluir para cavidades e os sintomas já começam a aparecer: dor quando mastigamos alimentos doces ou quando bebemos algo quente ou gelado, causando desconforto e mau hálito. O fato de o fio dental ficar preso entre os dentes também pode ser um sinal de lesão de cárie.
Como posso combater ou prevenir essa doença?
Controlando os fatores que podem ajudar no aparecimento das lesões de cárie. Dentre esses fatores, podem ser citados: evitar a ingestão de alimentos açucarados caso não seja possível, você deve ingeri-los junto às principais refeições e limpar os dentes (higienização bucal) de maneira adequada, utilizando escova, fio dental e pasta de dente com flúor. O flúor é um importante auxiliar no combate à cárie, pois previne a desmineralização, isto é, a saída de minerais do dente e favorece a remineralização, que é a entrada de minerais em pequenas lesões de cárie (lesões de manchas brancas ou acastanhadas opacas), antes que elas se tornem cavidades. A limpeza deve ser realizada sempre após as principais refeições e antes de dormir. É importante visitar seu dentista regularmente para que ele possa, através do exame clínico, controlar sua saúde bucal e orientar sobre qualquer dúvida que possa surgir com relação à mesma.
Existe vacina para a cárie?
Apesar dos estudos feitos até agora, não podemos contar com uma "acina"que previna a cárie dentária.
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EVOLUÇÃO DA CÁRIE
Inicia-se no esmalte do dente, na superfície mais externa e mais dura do dente. A sua superfície, perfeitamente lisa, torna-se cada vez mais rugosa. Ainda nesta fase, se descobrimos o problema, ainda tudo é reversível. Se por acaso o problema não é descoberto e por tanto não é detido, o esmalte debilitar-se-á e forma-se uma cavidade que penetra no segundo estrato do dente, a dentina. È nesta fase, que normalmente se começam a sentir as dores e os incômodos, por causa de alimentos demasiado doces ou bebidas demasiado quentes ou frias. Nesta fase, ainda existem grandes possibilidades de recuperação de todo este processo.
Caso contrário, as bactérias vão continuar com a sua ação tóxica, até agredir a polpa dentária, que é a parte mais íntima do dente. Neste ponto, as bactérias podem aumentar de forma considerável e inclusive, a infecção pode estender-se ao osso. A intervenção para salvar o dente, terá que ser muito mais complexa, pois o dentista terá que intervir a um nível muito mais profundo do dente.
Portanto o melhor tratamento em termos de tempo, sofrimento e custo é aquele que for levado a cabo o mais precocemente possível!
Para ao leitor a evolução da cárie desde a sua inicialização até o comprometimento pulpar vamos considerar quatro fases para tal evolução conforme visto a seguir:
FASE 1 - MANCHA BRANCA: O ácido produzido pela bactéria, resultado do processo químico com o açúcar dos resíduos alimentares, promove uma pequena desmineralização do esmalte. Fase indolor e reversível apenas com aplicação de flúor.
FASE 2 - CÁRIE NO ESMALTE: A desmineralização é mais intensa e destrói parte do esmalte. Nesta Etapa há cavitação (buraco no dente), no entanto, por ser apenas no esmalte o paciente não sente dor alguma, pois não há inervação no esmalte. A solução nesta etapa é remover mecanicamente a cárie e preencher com material restaurador. Este procedimento, na maioria dos casos, não requer anestesia.
FASE 3 - CÁRIE NA DENTINA: A destruição chegou à dentina, portanto, o 'buraco' no dente fica maior. Como há prolongamento nervoso na dentina, o paciente começa a sentir dores no dente. O procedimento neste caso também é remover a cárie mecanicamente e preencher a cavidade com material restaurador. Necessário o uso de anestesia local para realizar o procedimento.
FASE 4 - CÁRIE ATINGIU A POLPA - NECROSE PULPAR: Nesta fase a cavitação e as bactérias chegam ao canal (polpa) do dente. A dor é intensa e é necessário a desinfecção do canal e posterior tratamento de canal. Procedimento mais complexo. Uso de Anestesia Local.
Em resumo:
CONCLUSÃO: Quanto mais avançado o caso da cárie, mais complexo o procedimento. Portanto, quanto antes houver uma intervenção clínica no avanço da cárie, mais fácil, menos doloroso e mais barato será a solução do problema do paciente!
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EPIDEMIOLOGIA DA CÁRIE
A cárie dentária pode ser perfeitamente considerada uma doença da civilização moderna, já que o homem pré-histórico raramente apresentava esta forma de destruição dentária.
Os estudos antropológicos de von Lenhossek (anatomista húngaro, 1863-1937) revelaram que os crânios de seres humanos do período pré-neolítico (12.000 a.C.) não apresentavam cárie dentária, porém os crânios humanos do período neolítico (12.000 a 3.000 a.C.) continham dentes cariados sendo que, na maioria dos casos, as lesões foram observadas nas pessoas idosas em dentes que apresentavam alto grau de desgaste e impactação alimentar. As áreas cervicais eram atingidas freqüentemente.
Por outro lado, em 1934, o Professor Edward Mellanby (1884 – 1955; que descobriu a vitamina D e o papel desta na prevenção de raquitismo) reviu a literatura sobre a incidência de cárie em raças primitivas e notou que era invariavelmente muito menos freqüente do que no homem civilizado.
Estudos demonstram, por exemplo, que esquimós que vivem em vilas nativas, afastados, portanto, do contato com o homem civilizado, apresentam uma baixa incidência de lesões da cárie: entre os membros de uma vila isolada, 1,2 por cento dos dentes examinados estava cariado, enquanto que numa vila onde vivia um comerciante que negociava alimentos processados, a incidência de dentes cariados era de 18,1 por cento. Esquimós que vivem em condições de isolamento apresentavam uma incidência de cárie de aproximadamente 0,1 por cento, enquanto os esquimós que viviam em áreas com acesso aos alimentos processados apresentavam uma incidência de 13 por cento (cem vezes mais).
Esses e outros estudos indicam que a civilização moderna e o aumento da incidência de cáries dentárias estão em associação constante e que as tribos primitivas isoladas são relativamente isentas de cáries. Embora possa haver um determinado grau de resistência de algumas raças à cárie dentária, o fator dieta parece ser mais significativo, principalmente porque a incidência de cárie aumenta pelo contato com alimentos "civilizados".
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ATENÇÃO BEIJOQUEIROS DE PLANTÃO!
A cárie é doença transmissível
A sua principal forma de contágio, na nossa civilização, é pelo beijo.
Ao beijar outra pessoa, ocorre troca de saliva. A boca é um dos lugares em que temos a maior quantidade de microorganismos no corpo e ao fazermos essa troca de saliva também são trocadas nossas bactérias e outros microorganismos.
Para que o leitor possa fazer uma base saiba que, na boca, podemos encontrar:
500 espécies de bactérias
750 milhões de bactérias por ml de saliva
160 bilhões de bactérias por grama de material do sulco gengival
200 bilhões de bactérias por grama de biofilme.
A cárie e a gengivite são exemplos de infecções bacterianas que teve sua incidência aumentada nos últimos anos, provavelmente em decorrência do hábito de “ficar”.
De acordo com um estudo publicado em fevereiro de 2006 no British Medical Journal, beijar na boca várias pessoas aumenta em quatro vezes o risco de adolescentes contraírem meningite, uma infecção cerebral potencialmente fatal. Já a bactéria, principal causadora da temida cárie dental, Streptococcus mutans, também pode ser transmitida pelo beijo na boca.
Entre os microorganismos transmitidos pelo beijo estão os consideradas inofensivas, os cariogênicas (causadoras da doença cárie), microorganismos causadores de doenças transmissíveis como a cândida albicans (causadora do sapinho, candidíase ou monilíase) e alguns vírus como os causadores da mononucleose (também chamada de ‘doença do beijo prolongado’), herpes e hepatite.
O beijo tem um papel muito importante dentro da sexualidade humana. É através dele que todo o afeto começa, transcorre e termina. Muitos povos têm o costume de usar o beijo na boca como uma forma de saudação entre os amigos e parentes, mas pouco se sabe, entre a população em geral, das conseqüências que o beijo pode trazer.
A bactéria responsável pela adesão do biofilme (placabacteriana) à superfície do dente (e que, por isso mesmo, é uma das principais implicadas na formação da cárie) é a chamada Streptococcus mutans, que também pode ser transmitida, além do beijo, ao se dividir a comida usando o mesmo talher.
O mesmo ocorre com o Lactobacilus acidófilus que é a bactéria principal secretora dos ácidos que vão dissolver os tecidos mineralizados dos dentes provocando sua destruição.
Estas bactérias encontram-se, é óbvio, na placa dental das pessoas infectadas. Uma simples prova de saliva pode detectar a bactéria e determinar se a pessoa corre risco de desenvolver cáries.
Entre as pessoas que correm maior risco de desenvolver cáries estão as que tiveram cáries nos doze meses precedentes, os diabéticos, os hipertensos, os que têm um fluxo de saliva menor e aqueles cujo sistema imunológico esteja deficiente.
Os bebês também correm grande risco de contaminação devido a hábitos maternos como provar a papinha do bebê com a mesma colher com que servirá a refeição. Este é um dos erros mais comuns.
Uma simples colher de chá contaminada por uma pessoa infectada pelas bactérias da cárie pode abrigar milhares de micróbios. Uma simples colher de chá contaminada por uma pessoa infectada pelas bactérias da cárie pode abrigar milhares de micróbios.
Dar 'selinhos' na boca do neném, então, nem pensar. A ecologia bucal dos adultos, desenvolvida durante anos, é muito diferente da do bebê que ainda não desenvolveu defesas contra os microorganismos cariogênicos. Um ato carinhoso e meigo pode trazer consigo um potencial devastador para os dentes da criança e um futuro em termos de saúde bucal nada promissor.
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Afinal, como se faz o diagnóstico clínico da cárie?
O nosso objetivo agora é tecer mais considerações a respeito de seu correto diagnóstico clínico.
É, até certo ponto, comum escutarmos o relato de pacientes que, após consultarem vários profissionais, por razões diversas, espantam-se com a divergência entre os vários diagnósticos em relação ao número de cáries que ele apresenta. Entram em jogo, nesta situação, vários fatores sobre os quais vamos discutir mais à frente.
A importância de diagnosticarmos o número correto de processos cariosos é quase desnecessário comentar, pois é sobremaneira desagradável realizarmos uma restauração em um dente, em sua face oclusal, e deixarmos passar desapercebida uma cárie inicial na superfície proximal, mesial ou distal, que nos obrigará a uma nova intervenção em curto espaço de tempo. Não fora isto, a dentística representa 80 a 90%do trabalho diário do cirurgião-dentista, independente de possuir ou não uma especialidade, pois, como já mencionamos, a cárie é "a doença crónica mais prevalente das que afetam a espécie humana moderna".
Existem quatro fatores básicos à realização deste tipo de trabalho: O levantamento radiográfico periapical e interproximal, o exame clínico, o correto preenchimento da ficha clínica e o complemento com a elaboração do plano de tratamento.
Vamos discutir com alguns detalhes o exame clinico, por ser este o ponto chavedo que vamos chamar "sistema diagnóstico" que engloba os quatro itens anteriormente citados.
Para um correto exame clínico, necessitamos de um campo de exame adequado, instrumental próprio a este exame, material apropriado e um senso de observação apurado, sem o qual nenhum exame é satisfatório.
O que entendemos por um campo adequado? É aquele que nos permite visualizar, direta ou indiretamente, toda uma região a ser examinada.
Deve constar de 1) uma boa iluminação, que é proporcionada de maneira satisfatória pela maioria dos modernos refletores; 2) um campo seco, uma vez que a saliva mascara processos cariosos de tamanho reduzido, e que pode ser conseguido às custas de aspiradores de saliva e seringas de ar, com estas eliminando a saliva das superfícies dentárias a serem examinadas e, por fim, 3) o correto afastamento das estruturas moles para ampla visualização dos elementos dentários. Conseguimos isto por meio de afastadores de bochecha ou mais facilmente através do próprio espelho bucal. Fica evidente que os dentes devem estar livres de indutos moles ou duros para serem corretamente examinados.
A figura abaixo resume este instrumental usado n o diagnóstico da cárie.
O instrumental próprio ao exame e disgnóstico da cárie inclui o espelho bucal que faz as vezes de afastador e nos auxilia na vi sualização de certas superfícies dentais; a sonda exploradora (explorador), que, conforme seu próprio nome diz, nos auxilia na exploração das superfícies dentárias à procura de processos cariosos, necessitando, para isto, uma ponta fina e resistentee a a pinça clínica.
o material adequado engloba o fio ou fita dental, para evidenciar sinais de cáries proximais
e rolos de algodão para auxiliar a secagem e afastamento dos tecidos moles.
O senso de observação é igualmente importante para o diagnóstico, pois qualquer desvio de atenção ou mesmo falha de observação pode nos custar a identificação de algumas cáries.
Paralelo ao exame clinico faz-se necessário o correto preenchimento da ficha clínica, onde devem constar todas as características do processo carioso: localização, intensidade, para que, uma vez consultada, ela nos dê uma idéia carreta da situação dentária do paciente sem que necessitemos recorrer a novos exames clinicos.
Em todos os passos do exame temos que ser organizados e racionais. Assim, se iniciarmos o exame das arcadas dentárias em um quadrante, temos que examinar individualmente cada dente desta região. Uma maneira bastante racional é iniciar o exame, suponhamos pelo 3º molar superior direito, desde que exista, e irmos seguindo dente a dente até alcançarmos o 3º molar superior esquerdo; em seguida, passamos ao exame dos dentes mandibulares, iniciando pelo 3º molar inferior esquerdo e progredindo até o 3º molar inferior direito. Se transformarmos este caminho percorrido em um plano geométrico, teremos a presença de um círculo, o qual foi percorrido em sentido horário, com início do exame em um ponto e seu término neste mesmo ponto. Nada impede que o façamos em sentido anti-horário, ou que iniciemos em um dente inferior e terminemos no superior, o que realmente importa é a ordem com que isto é feito.
Vamos procurar, durante o exame, alterações nas posições dos dentes, muitas vezes causadas por cáries proximais; alterações de coloração, pois as cáries modificam a cor natural dos elementos dentários e, muitas vezes, o único sinal clínico de uma cárie proximal é a coloração branco leitosa da parte proximal.
Considerando o elemento dentário isolado, iniciamos o exame pela superfície mais facilmente visualizada, ou seja, a face oclusal dos dentes posteriores (molares e pré-molares). Armados de uma sonda exploradora (palpação à mão armada) percorreremos a totalidade das fóssulas e fissuras à procura de um ponto carioso que prendaa sonda. Realizamos o mesmo exame nas superfícies vestibulares e linguais, nos detendo na região cervical, onde, comumente, aparecem cáries subgengivais. Nos dentes anteriores, o exame deve ser meticuloso também por palatino ou lingual, principalmente no primeiro, na região de cíngulo à procura de pontos que detenham a sonda.
O exame das superfícies proximais é um procedimento que exige grande atenção de quem o executa e é onde devemos lançar mão de um conjunto de procedimentos para o correto diagnóstico.
Assim existe uma pequena variação no exame dos dentes posteriores e dos anteriores. Nos dentes posteriores, muitas vezes, a alteração de sua posição, seja mesializado ou distalizado, é um sinal do processo patológico; outras vezes é a alteração de cor, como já assinalamos; cáries iniciais, por outro lado, são de difícil diagnóstico na região posterior, pois os dentes são de maior volume, o que dificulta a visualização.
Nestes casos, lançamos mão de um artifício, qual seja, o uso do fio ou fita dental, o qual, quando passado pela superfície proximal de um dente com processo carioso, desfia-se (figura ao lado).
Isto, no entanto não é um dado correto por si só, isto é, restaurações proximais excessivas e cálculos nesta região podem levar ao mesmo resultado. Para chegarmos ao diagnóstico definitivo temos que lançar mão das ra-diografias interproximais (bite-wing) conforme mostra a figura ao lado onde as setas apontam para lesões cariosas revelada por este método.
Na região interproximal dos dentes anteriores o uso da radiografia não é essencial, pois pode ser substituída por um procedimento mais simples, a transiluminação. Este exame complementar não requer aparelhagem sofisticada e sim uma lanterna simples dotada de uma ponta de acrílico, cuja finalidade é concentrar o facho de luz (podemos, como já comentamos, usar a luz do fotopolimerizador). Uma vez colocado em contato com a superfície do dente, localiza cáries iniciais, pois estas aparecem escureci das em razão da diferença de densidade do tecido carioso e sadio.
Praticamente, o resultado obtido, quando incidimos o facho de luz no sentido vestíbulo-palatino ou lingual, é melhor do que se feito ao contrário, pois o interior da cavidade bucal é mais escuro que o exterior, o que permite um maior contraste.
Uma observação importante é que não devemos considerar apenas o resultado isolado de um destes exames a que nos referimos até agora. O que tem valor, realmente, é a somatória de todos os exames, pois só assim temos condição de chegar ao resultado ideal.
Depois de todas as observações feitas, de todos os dados transferidos à ficha clínica do paciente, cabe-nos elaborar o plano de tratamento. Este deve iniciar pelos processos mais avançados ou que apresentem sintomatologia dolorosa e evoluir até as cáries iniciais. De uma maneira geral, poderíamos dizer que o tratamento deve iniciar-se pelas canes de 4º e º graus, depois as de 2º grau e, finalmente, as de Iº grau, adaptando este esquema à situação clínica de cada caso.
Findo o tratamento a que nos propusemos, cabe-nos a proservação do paciente, que deve ser feita idealmente a cada 6 meses, quando realizamos novo exame clínico e radiográfico (interproximal), bem como a profilaxia bucal.
Como já tivemos oportunidade de citar, nenhum destes esquemas é rígido e deve ser adaptado a cada situação clínica, para que possamos obter o melhor resultado possível; sempre que quisermos obter sucesso em nossos exames, temos que respeitar todos os fatores mencionados anteriormente.
Afinal, o RX é necessário no diagnóstico da cárie?
É fato notoriamente conhecido o da dificuldade de detecção, através do exame clínico, de determinados processos cariosos localizados nas faces proximais dos dentes, onde a possibilidade de visualização é tardia e não precoce, bem como a da dificuldade da determinação da profundidade das cáries oclusais.
A diafanoscopia (transiluminação) se constitui num bom meio auxiliar para localização de cáries proximais de incisivos e caninos. Para os pré-molares e molares o exame radiográfico é fundamental.
Como os processos cariosos provocam destruição dos tecidos mineralizados dos dentes, aparecem nas radiografias como sombras radiolúcidas. Mesmo as cáries de esmalte, desde que não sejam localizadas nas faces vestibular, lingual, palatina e, algumas vezes, oclusal das coroas dos dentes, apresentam-se como radioluminescências.
Portanto, em todas as sombras radiolúcidas observadas nos tecidos mineralizados dos dentes deve-se ter em mente a possibilidade de diagnóstico, ao menos de probabilidade, de processos cariosos, mesmo que ocorram sob restaurações com material radiopaco, pois não poderiam ser sequer material de forramento, tendo em vista que todos também são radiopacos.
O diagnóstico diferencial deve ser feito para os casos de restaurações com materiais radiolúcidos. As sombras radiográficas destas devem apresentar cavidades bem definidas de conveniente preparo. As sombras radiolúcidas cervicais normais, que aparecem no limite amelo cementário, principalmente nos casos em que não haja cobertura ou superposição de tecido ósseo alveolar, da mesma maneira devem ser diferenciadas dos processos cariosos.
As cáries localizadas nas faces oclusal, vestibular, palatina e lingual são facilmente diagnosticáveis através de exame clinico; assim não são as proximais.
Radiograficamente as cáries proximais de esmalte mostram pequena interrupção, geralmente por baixo do ponto de contato. Não são observadas pelo exame clínico quando a destruição é mínima, por má posição dentária, ou pela não utilização da direção orto-radial do raio central, fato que determina superposição.
Na etapa dentinária da evolução da cárie são melhores observadas. Há casos nos quais existe o comprometimento pulpar. Com relação às cáries oclusais de esmalte, a radiografia tem valor escasso ou nulo, devido à grande espessura do esmalte que os raios X têm que atravessar. Quando extensas a informação radiográfica pode resultar melhor que a clínica, nos dando noção da profundidade e possível comprometimento pulpar. Com relação às cáries cervicais a informação clínica ainda é a melhor.
As cáries sob restaurações, a radiografia nem sempre acusa, devido à radiopacidade dos materiais restauradores. A informação pode variar segundo a direção do raio central, ortogonal ou bissectal. Com direção ortogonal é possível muitas vezes controlar a zona relacionada com o assoalho da cavidade, o que é importante por sua vizinhança com a câmara pulpar (veja a cárie na figura aol ado indicada pela seta). Com direção bissectal, a zona relacionada com o assoalho se registra com superposição da radiopacidade do material restaurador.
Ao lado vemos um caso de cárie (DEPOIS) que desenvolveu-se sob uma restauração à amálgama (ANTES). Esta cárie foi diagnosticada através de radiografia e estva assintomática.