Este artigo foi incluído neste site para que o leitor possa, através dele,compreender melhor os termos e expressões que serão usadas nas páginas específicas deste trabalho. As informações postadas aqui podem ser úteis para profissionais da área biomédica, professores de português e para o leitor comum, mas curioso que gosta do saber . Muitas vezes o indivíduo fica perplexo diante dos termos técnicos, aparentemente incompreensíveis, com que se depara todas as vezes que encara um texto científico. O artigo que segue, se lido com carinho, com certeza proporcionará ao leitor a oportunidade de apreciar todas as matérias publicadas neste espaço sem se deparar com palavras de significado inacessíveis. Esta página poderá também servir de consulta durante a leitura dos demais artigos.
UM POUCO DE FILOLOGIA
Todo ramo do saber humano, toda ciência, necessita criar sua própria terminologia, adequada às suas necessidades de comunicação e expressão. A medicina, como uma das mais antigas atividades do homem, desenvolveu uma linguagem que, ao leigo, se afigura hermética e de difícil entendimento. Do mesmo modo, o estudante dos cursos biomédicos se assusta de início com tantas palavras novas que deve aprender e cujo significado tem dificuldade de memorizar. Para facilitar o aprendizado da terminologia médica são úteis algumas noções sobre formação de palavras. Inicialmente é necessário ressaltar que os termos médicos são regularmente formados a partir de radicais, prefixos e sufixos gregos e latinos, com os seguintes objetivos:
1.Simplificação da linguagem.
2. Precisão do significado das palavras
2.3. Intercâmbio científico entre as nações com diferentes idiomas de cultura.
O uso de radicais gregos e latinos, comuns a vários termos, permite expressar em poucas palavras fatos e conceitos que, de outro modo, demandariam locuções e frases extensas. Cada termo médico, tal como ocorre em outras áreas do conhecimento humano, caracteriza um objeto, indica uma ação ou representa a síntese de uma idéia ou de um fenômeno, a definição de um processo, contendo em si, muitas vezes, verdadeira holofrase, cujo sentido está implícito na própria palavra. Quando nos referimos, por exemplo, à colecistectomia laparoscópicaenunciamos em duas palavras um procedimento complexo que, em linguagem descritiva seria: "operação para retirada da vesícula biliar por um processo que não necessita abrir a parede abdominal e que utiliza um equipamento de videolaparoscopia". Se quiséssemos explicar em que consiste o equipamento teríamos de escrever outro parágrafo ainda mais extenso. Vejamos outro exemplo: O mielograma acusou pancitopenia. Equivale a dizer "que o exame da medula óssea mostrou diminuição de todos os tipos de células normalmente ali encontradas e que dão origem aos glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas do sangue". Choque hipovolêmicoexpressa a condição clínica caracterizada, em linguagem comum por "queda acentuada da pressão arterial por diminuição do volume de sangue circulante". E assim por diante.
O segundo objetivo consiste na precisão da linguagem. Cada termo empregado deve ter um único significado, uma definição própria aceita pela comunidade científica, ao contrário da linguagem literária ou coloquial em que as palavras podem ter acepções diversas, na dependência do seu contexto na frase.
O terceiro objetivo da terminologia médica é a sua internacionalização, facilitando o intercâmbio de informações entre os diferentes países. Isto se torna possível pela utilização de termos que são comuns a todas as línguas de cultura, adaptáveis morfologicamente a cada uma delas. Vejamos apenas um exemplo: O termo esplenomegaliasignifica "baço aumentado de tamanho". A palavra compõe-se das raízes gregas splén, baço+ megalo, grande + sufixo ia. O termo é universal, comum a todos os idiomas. Aceita a palavra grega splén na terminologia médica internacional, todos os termos relativos ao baço serão formados com o mesmo radical nos vários idiomas. Se tivéssemos que utilizar a palavra baço fora da terminologia médica, teríamos spleen, em inglês; mitz, em alemão; rate, em francês; milza, em italiano; bazo, em espanhol e baço, em português, o que dificultaria enormemente a comunicação.
O número de termos novos com os quais o profissional da saúde deve familiarizar-se é relativamente grande - cerca de 13.000 - número superior ao vocabulário habitualmente usado em qualquer idioma. Basta dizer que em toda a obra literária de Machado de Assis foram utilizados não mais que 12.000 diferentes vocábulos. Seria extremamente difícil memorizar tantas palavras, não fosse o fato de que a maioria dos termos científicos usados em medicina foram criados utilizando-se de raízes gregas e latinas, que entram com o mesmo significado na formação de múltiplas palavras, e que podem ser facilmente identificadas. São relativamente poucos os termos médicos oriundos de outras línguas ou formados de elementos vernáculos. Assim, para a compreensão e mais fácil assimilação da terminologia médica, é indispensável um mínimo de conhecimento sobre a origem e formação de termos médicos a partir do grego e do latim.
FORMAÇÃO DE NOVAS PALAVRAS
As gramáticas ensinam que os principais processos de formação de novas palavras são a derivaçãoe a composição. A derivação pode ser prefixal, sufixal, parassintética e regressiva. A composição se faz por justaposição e aglutinação.
a) Derivação
Na derivação prefixalutilizam-se, na grande maioria das vezes, prefixos gregos e latinos. Para muitos lingüistas a prefixação é, na verdade, uma forma de composição e não de derivação. Na derivação sufixal, também chamada progressiva, utilizam-se sufixos nominais na formação de substantivos e adjetivos, e sufixos verbais na formação de verbos. Há ainda em português um sufixo adverbial frequentemente usado na formação de advérbios. A derivação parassintéticaconsiste na utilização simultânea, na mesma palavra, de um prefixo e de um sufixo. A derivação regressivabusca encontrar a palavra primitiva a partir da derivada.
b) Composição
Na composição por justaposiçãoduas palavras se unem, com ou sem hífen, sem que nenhuma delas sofra qualquer modificação. Na aglutinaçãoocorre modificação em uma delas ou em ambas.
RAIZ, RADICAL, TEMA, PREFIXO, SUFIXO E DESINÊNCIA
Chama-se raizo elemento nuclear, primitivo e irredutível da palavra, que exprime a idéia central. Chama-seradicala parte da palavra desprovida do sufixo. Pode ser a própria raiz ou esta acrescida de outro elemento, caso em que também é chamada de tema. Alguns gramáticos consideram radical e tema como sinônimos Prefixos são elementos ou partículas que se antepõem ao radical, modificando o sentido da palavra. Originam-se, em sua maioria, de preposições ou advérbios. Sufixos são elementos ou partículas que se pospõem ao radical, para formação de derivados da mesma palavra. Os sufixos podem ser nominais (substantivos e adjetivos) e verbais. Desinênciavem a ser o elemento final da palavra, indicativa da flexão nominal (gênero, número e grau) ou verbal (modo, tempo, número, pessoa e voz).
DECLINAÇÃO
Uma noção lingüística importante, que deve ser conhecida para melhor entendimento da maioria dos termos médicos, é o da declinação. Tanto o grego como o latim possuem declinações, ou seja, um sistema de flexões casuais dos nomes, que permite reconhecer a função da palavra na oração por sua terminação. Há três declinações em grego e cinco em latim, conforme o tema. A declinação se dá no singular e no plural e abrange cinco casos em grego e seis em latim. Os casos em grego são: nominativo, genitivo, dativo, acusativo e vocativo.Em latim há um caso a mais, o ablativo. O nominativo corresponde ao sujeito da oração; o genitivo ao adjunto adnominal; o acusativo ao objeto direto; o dativo ao objeto indireto; o ablativo aos adjuntos adverbiais, e o vocativo expressa um apelo ao sujeito. O ablativo em grego é substituído pelo genitivo ou pelo dativo. As línguas sem declinação, como a portuguesa, valem-se de preposições para substituir as flexões casuais. Em português usa-se a preposição de para o genitivo; a ou para no dativo, e por em lugar do ablativo. O nominativo e o acusativo, ou seja, o sujeito e o objeto direto são identificados por sua colocação na frase, sem necessidade de preposição. Os termos médicos oriundos do grego são formados em sua maioria a partir do genitivo e do nominativo, enquanto os termos derivados do latim, utilizam de preferência o acusativo. Na notação escrita é usual mencionar o nominativo seguido do genitivo, que identifica a declinação a que pertence a palavra.O genitivo tanto pode ser indicado por extenso, como, o que é mais usual, de modo abreviado apenas pela desinência. Exemplos:
Em grego
1. genitivo por extenso: 2. genitivo indicado apenas pela desinência kheir, kheirós - mão dérmo, atos - pele rhis, rhinós - nariz haîma, atos - sangue thrix, thrichós - cabelo nephrós, oû -ri poús, podós - pé thórax, akos- tórax
Em latim:
1. genitivo por extenso: 2. genitivo indicado apenas pela desinência: cor, cordis - coração manus, us - mão os, oris - boca nasus, i - nariz os, ossis - osso sanguis, inis - sangue pes, pedis - pé vena, ae - veia
FORMAÇÃO DE TERMOS MÉDICOS
Os termos médicos, em sua grande maioria, são formados a partir de radicais, prefixos e sufixos gregos e latinos. Em menor número provêm de elementos vernáculos ou procedentes de outros idiomas. As palavras formadas com elementos de mais de um idioma são chamadas híbridas. O hibridismo deve ser evitado, sempre que possível.
Prefixação e sufixação.
Principais prefixos gregos de interesse médico:
a, an - privação: acloridria, afasia, anaeróbio, analgésico an, ana - para cima, para trás: anionte, anaplasia ana - de novo: anamnese, anastomose anti - contra: antiemético, antídoto, antissepsia apo - separação, derivação: apócrino apófise, aponeurose dia - através de: diagnóstico, diafragma, diarréia, diáfise, diálise dis - dificuldade: disfagia, dispnéia, dislalia, distrofia, disúria ecto - fora de, exterior: ectoderma, ectópico, ectoparasito endo - dentro, parte interna: endocárdio, endógeno, endotélio epi - sobre: epiderme, epidemia, epífise, epidídimo eu - bem, bom: euforia, eugenia, eutanásia exo - para fora, externo: exoftalmia, exosmose, exógeno hemi - metade: hemisfério, hemiplegia, hemicrania, hemicolectomia hiper - aumento, excesso: hipertrofia, hipertonia, hiperglicemia. hipo - diminuição ou posição abaixo: hipocloridria, hipocôndrio iso - igualdade: isotérmico, isogênico, isótopo, isotônico meta - mudança, sucessão: metamorfose, metafase, metacarpo neo - novo: neoplasia, neoformação, neologismo oligo - pouco: oligospermia, oligúria, oligofrênico orto - reto, direito: ortognata, ortopedia, ortodontia pan - todo: pancardite, pangastrite, pandemia, pan-hipopituitarismo pen - escassez, pobreza: citopenia, leucopenia, linfopenia para - proximidade: parasito, paratiróide, paramétrio, paranormal peri - em torno de: periarticular, periférico, peritônio, pericárdio poli muito: policitema, polidipsia, polimenorréia, poliúria pro - anterioridade: prognóstico, proglote sin - idéia de conjunto, simultâneo: síndrome, sincrônico, sincício.
Principais prefixos latinos de interesse médico:
ab, abs - separação, afastamento: abscesso, abstêmio ad - aproximação, adição: adsorção, adstringente ante - anterioridade, para frente: antebraço, anteflexão co, con - companhia: co-autor, congênere contra - oposição: contraceptivo, contralateral de, des - sentido contrário, separação: desinfecção, degeneração, desnervação, dessensibilização en - introdução, mudança de estado, revestimento: encarcerar (hérnia), envenenar, envolver ex - para fora: exfoliativa (citologia), exsudato in - introdução, para dentro: intubação, invaginação inter : posição intermediária, reciprocidade: intersexualidade, interação intro - para dentro: introversão, introspecção per - durante, através: peroperatório, peroral pós, post - depois, em seguida: pós-operatório, post mortem pre - antecedência, posição anterior: pré-coma, pré-frontal pro - para diante (não confundir com igual prefixo grego): pronação, protrusão re - repetição, volta, intensidade: repolarizar, refluxo, reforçar retro - atrás, para trás: retroperitônio, retroversão, retroalimentação semi parcialmente, incompleto: semicírculo, seemicúpio, semimorto sobre, super, supra - posição acima, intensidade: sobrepor, supercílio, suprapúbico, superinfecção sub - posição inferior, ação incompleta: subconsciente, subagudo, subliminar trans - através, além: transmural, transaminase, transexual
Principais sufixos nominais gregos de interesse médico:
ase - enzima: amilase, lipase, fosfatase, transaminase ia - coleção, qualidade, ciência: enfermaria, assistolia, cardiologia ismo - doença, sistema, crença: alcoolismo, botulismo, vitalismo íase - doença causada por parasito ou bactéria: amebíase, hanseníase ite - inflamação: apendicite, gastrite, cistite, miosite óide - semelhante a: mastóide, esfenóide, esquizóide oma - tumor: mioma, carcinoma, sarcoma ose - doença não inflamatória, ou degenerativa: artrose, dermatose
Principais sufixos nominais latinos de interesse médico:
Os termos médicos de origem grega podem ser divididos em dois grupos: 1. Termos já existentes em grego clássico e que transitaram pelo latim antes de serem incorporados às línguas modernas. O latim foi a língua de comunicação científica utilizada durante muitos séculos nos países europeus. Mesmo quando o latim vulgar já não era mais falado pelo povo e havia se transformado nas línguas neolatinas, o latim clássico, erudito, continuava a ser usado nas Universidades, tanto na publicação de livros como na comunicação oral, em preleções, aulas e conferências. Todo o legado da medicina grega e, posteriormente, da medicina árabe, foi trasladado para o latim. Em conseqüência, os termos médicos existentes foram adaptados a esse idioma, sofrendo alterações morfológicas e prosódicas que se mantiveram nas línguas atuais. 2. Termos formados diretamente de elementos gregos em data posterior ao abandono do latim como língua de comunicação científica, o que ocorreu progressivamente a partir do século XVIII. O acervo lexical de novos termos cresce dia a dia, em decorrência do progresso científico. Quase sempre os novos termos surgem em países desenvolvidos, onde são feitas novas descobertas, e devem ser adaptados aos idiomas de outros países, que os incorporam ao seu léxico. Na composição dos novos termos usam-se dois ou mais elementos da língua grega, que podem ser prefixos, temas nominais e sufixos. Devemos distinguir nos compostos o determinante e o determinado. Determinante é o elemento modificador, que restringe ou especifica o sentido do determinado. Determinado é o elemento mais importante, de sentido geral. Conforme a posição do determinante na palavra, os compostos podem ser de três tipos: Tipo sintético - O determinante vem em primeiro lugar. É o tipo mais comum. Ex: cardiologia, cromosoma, linfoma, mielócito, oftalmoscópio. Tipo analítico - O determinante vem em segundo lugar, São poucos os compostos desse tipo. Ex: filosofia, hipopótamo Tipo anfótero - Os elementos são de igual valor, não se distinguindo entre determinante e determinado. Ex: andrógino, hermafrodita.
Termos médicos oriundos do latim
Os termos de origem latina integrantes do vocabulário médico procedem, em sua maioria, do latim erudito. Contudo, alguns nomes, sobretudo os relativos a partes visíveis do corpo humano, são remanescentes do latim vulgar. Denomina-se latim vulgar ao latim que era falado pelo povo nas províncias romanas e que se diferenciou regionalmente, dando origem às línguas neolatinas. Entende-se por latim erudito a língua-padrão em que foram escritas as obras clássicas da literatura latina, manancial onde se abasteceram os eruditos de épocas posteriores. Muitos termos mantiveram no latim vulgar a mesma forma do latim erudito.
Termos médicos oriundos do latim vulgar. Exemplos:
Cabeça - de capitia, plural de capitium, capuz. No latim erudito caput.Gr.kephalé, ês Nariz - de naricae, ventas® singular narice®plural narices®singular nariz. Gr. rhís, rhinós. Boca - de bucca, bochecha. Suplantou os, oris. Gr. stóma, atos Orelha - de oricla, de auricula, diminutivo de auris. Gr. oûs, otós Dedo - de ditu, mod. de digitu. Gr. dáktylos, ou Joelho - de genuculu, diminutivo de genu. Gr. góny, gonatos Osso - de ossu. No latim erudito os, ossis. Gr. ostéon, osteu Fígado - de ficatum (figo). Lat. erudito: jecur. Gr. hepar, hepatós Calcanhar - de calcanho, do lat. erudito calcaneum, i.Gr. astrágalus, ou
Termos médicos oriundos do latim erudito. Exemplos:
Radio - de radiu, vara. Gr. kerkís, ídos Cúbito - de cubito, cotovelo. Gr. pêkhus, eos Tíbia - de tibia, flauta, tubo de órgão(instrumento musical).Gr. knéme,es Pálpebra - de palpebra. Gr. blépharon, ou Intestino - substantivação do adj. intestino, do latim intestinu, interior. Gr.: énteron, ou Reto - de rectus (sem flexuras). Gr. proctos, oû (inclui o ânus) Ânus - de anus, anel Ovário - de ovariu, portador de ovos. Gr. oophoros, os Testículo - de testiculus, diminutivo de testis, testemunha. Gr. órkhis, ios Pênis - de penis, der. de pendere, pender. Gr. phallós, oû Vulva - de vulva. Gr. hystéra Músculo - de musculus, diminutivo de mus, rato. Gr. mys, myós Útero - de uterus, ventre, ou de uter, odre. Gr.: métra, as; hystéra, as; delphýs, ýos Veia - de vena, conduto. Gr.: phlebós, ou Olho - de oculu. Gr. ophtalmós, oû Perna - de perna. Gr. skélos, ous Coxa - de coxa, osso do quadril. Passou a designar o segmento femoral.Gr.merós, oû Fêmur - de femur, coxa. Gr. merós, oû Pé - de pes, pedis. Gr. poús, podós Mão - de manu. Gr. kheír, kheirós Lábio - de labiu. Gr. kheîlos, ous Barba - de barba. Gr. pólon Cabelo - de capillu. Gr. thrix, thrikhós Punho - de pugnu. Gr. karpós, oû Dente - de dente. Gr. odoús, ontos Língua - de lingua. Gr. glôssa, es Pele - de pelle. Gr. dérma, atos Pulmão - de pulmone. Gr. pneúmon, onos Coração - de cor. Gr. cardía, as Rim - singular de renes, órgão duplo. Gr. nephrós, oû Bexiga - de vesica. Gr. kýstis, eos Escroto - de scrotu, bolsa. Gr. orkhis, ios Ombro - de umero. Gr. ômos, oû
Termos oriundos do grego através do latim. Exemplos:
Estômago - do gr. stómakhos, pelo latim stomachu Cólon - do gr. kólon, pelo latim erudito colon Artéria - do gr. artería, pelo latim arteria Catéter - dogr. kathetér, pelo latim cateter Faringe - do gr. pháryggx, pelo latim pharynx Braço - do gr. brakhíon, pelo latim bracciu Uretra - do gr. ouréthra, pelo latim urethra Ureter - do gr. ouréter, pelo latim ureter Pâncreas - do gr. págkreas, pelo latim pancreas
Termos oriundos de traduções latinas de palavras gregas. Exemplos:
Duodeno - do latim duodenum, tradução do grego dódeka-dáktylon (12 dedos) (Erasístrato). Jejuno - do latim jejunus, vazio, tradução do grego nêstis, jejum (Aristóteles)
Termos híbridos:
São aqueles formados com elementos de mais de um idioma. Exemplos: Hipertensão (hiper, gr. + tension, lat.) Endovenoso (endo, gr. + vena, lat. + o,,so, gr.) Densímetro (densi, lat. + metron, gr.)
Termos de origem incerta
São aqueles para os quais não há comprovação etimológica. Exemplos: Pescoço Bochecha Pestana bigode
Termos de origem onomatopaica
São chamadas onomatopaicas ou onomatopéicas as palavras que imitam sons naturais. Exemplo: Garganta - de garg (ruído de gargarejo).
TERMOS MÉDICOS FORMADOS COM RADICAIS GREGOS.
A maioria dos termos médicos, especialmente os de criação mais recente, são compostos de temas ou radicais gregos, os quais podem ser encontrados nos dicionários médicos que trazem a etimologia das palavras. Alguns léxicos, como o de Garnier e Delamare utilizam o alfabeto grego na indicação da origem dos termos; outros, como o Dorland's Illustrated Medical Dictionary utilizam a transliteração das palavras gregas para o alfabeto latino, o que facilita a compreensão dos leitores não familiarizados com o alfabeto grego.
a) partidários ou sectários de doutrinas e sistemas (em ismo)
artístico
realista, simbolista
filosóficos
kantista, positivista
políticos
federalista, facista
religiosos
budista, calvinista
b) ocupação ofício
dentista, pianista
c) nomes pátrios e gentílicos
nortista, paulista
-ite
inflamação
bronquite, gastrite
para fósseis
amonite
-(i)vel
uma ação
perecível, punível
-(l)ento
a) provido ou cheio de
ciumento, corpulento
b) que tem o caráter de
barrento, vidrenteo
-ivo
transforma verbo em substantivo
nutritivo, regenerativo, supurativo
-mento
a) ação ou resultado dela
acolhimento, ferimento, aleitamento, corrimento
b) instrumento de ação
ornamento, instrumento
c) noção coletiva
armamento, fardamento, medicamento
-óide
semelhante a
mastóide, esfenóide, esquizóide
-ol
para alguns compostos ou funções químicas orgânicas
fenol, álccol, butanol, etanol
-oma
tumor
mioma, carcinoma
-onho
propriedade, hábito constante
enfadonho, risonho
-or
tranforma substantivo em adjetivo
alvor, amargor
-ose
doença não inflamatória, ou degenerativa
artrose, dermatose
-oso
provido ou cheio de
brioso, venenoso
transforma adjetivo em substantivo
aquoso, infeccioso, edematoso
-são
ação ou resultado dela
agressão, extensão
-(s)or
agente ou instrumento de ação
agressor, ascensor
-(t)icio
uma ação, referência
acomodatício, fictício
-tico
relação
aromático, rústico
-(t)ivo
ação, referência, modo de ser
afirmativo, pensativo
-(t)or
agente, instrumento de ação
inspetor, interruptor
-(t)ório
ação, pertinência
preparatório, emigratório
-(t)ura
resultado ou instrumento de ação, noção coletiva
formatura, magistratura
-udo
provido ou cheio de
pontudo, barbudo
-ugem
semelhança (pejorativo)
ferrugem, penugem
-ume
noção coletiva e de quantidade
cardume, negrume
-ura
tranforma substantivo em adjetivo
alvura, doçura
termos médicos
comissura, estatura, fissura, sutura
PATOLOGIA COMO SINÔNIMO DE DOENÇA
Patologia vem do grego páthos, doença, e lógos, estudo, tratado. Etimologicamente, portanto, significa estudo das doenças.
Define-se patologia como o ramo da medicina que descreve as alterações anatômicas e funcionais causadas pelas doenças no organismo. Divide-se em patologia geral, que estuda os mecanismos básicos das doenças, e patologia especial, que descreve as alterações de cada órgão ou aparelho. Quando se ocupa das alterações anatômicas, macro e microscópicas, recebe a denominação de anatomia patológica e quando tem por objeto as alterações fisiológicas, a de fisiopatologia. O estudo das alterações produzidas nos tecidos pelas doenças constitui a histopatologia, e das alterações celulares, a citopatologia ou patologia celular. Quando nos referimos à patologia cirúrgica, obstétrica, pulmonar, ocular etc, estamos nos referindo ao estudo das alterações encontradas nas doenças cirúrgicas, obstétricas, pulmonares, oculares etc.
Além de significar o estudo das alterações produzidas no organismo pelas doenças, o termo patologia é também utilizado para designar essas mesmas alterações. Ex.: patologia da hipertensão arterial, patologia da febre tifóide, patologia da doença de Chagas etc. Não deve, entretanto, ser usado como sinônimo de doença, sobretudo no plural, como ocorre freqüentemente. Ex.: "A patologia deste doente parece ser uma virose"; "o diabetes é uma patologia complexa"; "as patologias mais comuns na infância são as gastroenterites e as amigdalites" etc.
Em nenhum dicionário, especializado ou não em termos médicos, encontra-se averbado o termo patologia como sinônimo de doença, enfermidade ou afecção. Dizer que o paciente tem uma patologia, como adverte o Prof. Idel Becker, seria o mesmo que dizer que o paciente tem uma cardiologia em lugar de uma cardiopatia.
O mesmo desvio semântico é encontrado em espanhol e em inglês,. o que torna mais difícil sua rejeição em português. Em uma pesquisa na Internet, realizada em 11/06/2005 no site de busca Google, foi encontrada a seguinte frequencia com que são empregados outros termos, dentre os quais patologia, em substituição à doença.
Em português (é uma... patologia)
Doença -88.900 vezes
Patologia -4.060-
Enfermidade -3.440-
Afecção -831-
Moléstia -385-
Em espanhol (es una... patologia)
Enfermedad -239.000 vezes
Patología -15.800-
Moléstia -4.700-
Dolencia -631-
Em inglês (is a... pathology)
Disease -584.000 vezes
Illness -82.900-
Pathology -8.000-
Affection -5.310-
Possivelmente, estamos diante do que os linguistas chamam de neologismo de significado; a mesma palavra incorpora outro significado além do primitivo, tradicional. Como a evolução semântica das palavras é imprevisível, bem pode ser que tenhamos no futuro de acrescentar mais um significado à palavra patologia. A boa linguagem, vernácula, correta, no entanto, pelo menos por enquanto, não incorpora este novo significado de patologia.
SELA TÚRCICA OU SELA TURCA?
As duas formas são amplamente usadas. O dicionário Houaiss e o Aurélio, registram ambas sem manifestar preferência por uma delas. O Michaelis averba unicamente sela túrcica.
A denominação de sella turcica, em latim, foi introduzida na nomenclatura anatômica pelo anatomista belga Adrian van der Spieghel (1578-1625), mais conhecido pelo nome latino de Spigelius, em sua obra De humanis corporis fabrica, publicada em 1627, dois anos após sua morte. Spieghel foi professor de anatomia em Veneza e Pádua, sendo mais conhecido pelo epônimo lobo de Spieghel dado ao lobo caudado do fígado, por ele descrito. Spieghel comparou a depressão da face superior do osso esfenóide, onde se aloja a hipófise, com a sela de montaria usada pelos turcos e beduínos, a qual difere das demais por ter a parte posterior mais alta, oferecendo apoio para as costas do cavaleiro.
Como era de praxe no século XVII nos escritos científicos, também Spieghel usou o latim em sua obra. Sella, em latim, significa assento, cadeira, e turcica, que se refere aos turcos. Por extensão, sella passou a designar o arreio que se coloca no dorso do animal para o cavaleiro montar.
A citada depressão do esfenóide tem como sinônimos sela equina, sela equestre, sela esfenoidal, fossa pituitária, porém a denominação de sela túrcica, poposta por Spieghel, predominou sobre as demais. No dicionário de termos médicos latinos de Stephen Blancardi, de 1718, já se encontra sella turcica como sinônimo de sella equina
Do latim, a denominação sella turcica foi traduzida, adaptada ou incorporada às línguas modernas. Temos, em francês, selle turcique; em inglês, sella turcica tal como em latim; em espanhol, silla turca. Em português, como já assinalamos, usa-se tanto sela túrcica como sela turca.
A primeira edição da Nomina Anatomica em latim, de 1895, conhecida por BNA (de Basiléia, na Suiça), adotou sella turcica, de preferência a qualquer outra denominação, o que foi sacramentado a partir da PNA (Parisiensia Nomina Anatomica), de 1955.
A primeira tradução da PNA para o português data de 1961 e manteve a forma latina, aportuguesando-a: sela túrcica. Em outra tradução, de 1977, coordenada pelo Prof. Idel Becker, permaneceu a opção por sela túrcica. Em 1984, no entanto, foi publicada uma nova tradução em português, da 5a. edição da Nomina Anaatomica em latim, "sob a supervisão da Comissão de Nomenclatura da Sociedade Brasileira de Anatomia", na qual preferiu-se substituir túrcica por turca: sela turca.[13] Mais recentemente, na tradução da última edição da Nomina, de 1998, publicada com o título de Terminologia Anatômica, permaneceu a forma sela turca
Fazendo uma pesquisa nos trabalhos indexados pela BIREME nos últimos anos, encontramos a ocorrência de sela túrcica 78 vezes, e sela turca 75 vezes, o que representa 50% de cada uma das formas. Como túrcica e turca são sinônimos, embora o adjetivo túrcico(a) seja obsoleto, não se pode incriminar nenhuma delas de incorreta.
O nosso ver túrcica é mais tradicional, enquanto turca é mais recente, tendo sido adotada pela Sociedade Brasileira de Anatomia.
Por outro lado, sela túrcica é a forma que se encontra nos Descritores em Ciências da Saúde da BIREME para a língua portuguesa e a única registrada no mais moderno dicionário de termos médicos, que é o de Luis Rey. Estamos, assim, diante de um impasse, e só o tempo dirá qual a forma que irá prevalecer.
O exame cadavérico com fins médicolegais, ou visando ao estudo anatomopatológico, observa o Prof. Idel Becker, sempre foi chamado de autópsia. "Até alguém, de boa fé, tachá-la de forma" "errada" (prosodicamente) e propugnar a pronúncia "certa": autopsia (ía). Ao mesmo tempo, outro autor lembrou-se de impugnar a forma autópsia do ponto de vista etimológico. As divergências foram-se avolumando. E o resultado é que hoje temos, pelo menos, nove formas em conflito: autópsia, autopsia, autopse, necrópsia, necropsia, necropse, autoscópia, autoscopia, necroscopia". Deixando de lado as formas autoscópia e autoscopia, pouco usadas, ainda restam sete formas concorrentes. O termo autopsía já existia em grego (formado de auto, próprio + opsis, ação de ver + sufixo -ia), com o sentido de "ver com os próprios olhos". Galeno empregou o termo no sentido de inspeção pessoal para aquisição de conhecimentos de anatomia. Segundo Pedro Pinto, no sentido de exame cadavérico, o vocábulo foi primeiramente empregado por Alemanus, que entendia que o médico legista, ao examinar o cadáver, observava-se a si mesmo. Com o significado atual de investigação da causa mortis seu uso data do início do século XIX. O dicionário de Moraes, de 1813, não registra a palavra autópsia, a qual teria entrado para a língua portuguesa por intermédio do francês. Segundo J. P. Machado, o primeiro documento em língua portuguesa com a palavra autópsia data de 1847; é de autor anônimo e refere-se à "autópsia de partidos políticos...". A divergência de natureza prosódica reside no sufixo -ia, que pode provir diretamente do grego ou através do latim. Na primeira hipótese a vogal i é tônica: na segunda, é átona. Muitas palavras em português seguem a prosódia grega, enquanto outras seguem a prosódia latina. Embora o uso tenha consagrado a forma proparoxítona, alguns léxicos indicam a forma paroxítona, fazendo recair o acento na letra i, conforme o étimo grego. Nascentes observa que "a acentuação no i, aceita por Constâncio, Faria, Roquete, Lacerda, Aulete e Ramiz, não é popular". Outros dicionários registram as duas formas como variantes prosódicas possíveis. O Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras registra autopse e autópsia, deixando autopsia (ía) para expressar a terceira pessoa do indicativo do verbo autopsiar. Autopse, em lugar de autópsia (por analogia com sinopse), tornou-se a forma preferida de autores portugueses, tendo sido adotada no Brasil por Plácido Barbosa, Pedro Pinto e Afrânio Peixoto. As formas necropsia e necroscopia foram propostas em substituição à autopsia por serem etimologicamente mais apropriadas. Com base no dicionário de Moraes, Houaiss estabelece a datação histórica de 1858 para necropsia e necroscopia. O Shorter Oxforf English Dictionary indica a data de 1856 para a entrada do termo necropsy na língua inglesa. Em francês ambos os termos estão averbados no Dictionnaire de Médecine, de Littré e Robin, de 1873e, em português, no Dicionário da Língua Portuguesa", de Domingos Vieira, editado entre 1871 e 1874. A forma necropse e a divergência prosódica entre necrópsia e necropsia decorrem, mutatismutandis, das mesmas razões apontadas para autópsia. Existe, contudo, em relação à necropsia menor tolerância dos lexicógrafos para com a forma proparoxítona,talvez por se tratar de criação mais recente. A classe médica brasileira, nos últimos 40 anos, vem usando indistintamente autópsia e necrópsia na sua forma proparoxítona, sendo raro o emprego de autopse, necropse e necropsia. Parece claro que, se optarmos por autópsia como variante prosódica correta, por uma questão de coerência também devemos aceitar necrópsia em lugar de necropsia (ía). Autópsia e necrópsia são, pois, as duas formas prevalecentes, sendo impossível, no momento, dizer qual delas irá predominar no futuro.